Cerca de 300 estudantes do ensino superior manifestaram-se esta quarta-feira em Lisboa para exigir o fim das propinas num percurso que começou no Largo de Camões e acabou em frente à Assembleia da República.

Sob o lema “É hora de avançar, a propina tem de acabar”, a concentração fez parte de um protesto nacional que ocorreu também no Porto, Évora, Braga, Caldas da Rainha, Faro, Covilhã e Coimbra.

Durante todo o percurso, os estudantes bradaram palavras de ordem como “Para a banca vão milhões, para o ensino são tostões” e “A Educação é um direito, sem ela nada feito”.

A Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova foi uma das oito associações subscritoras da ação e o seu presidente, José Pinho, disse à Lusa que o estado atual do ensino superior tem trazido “consequências gravosas para os estudantes”, sendo a propina a principal fonte de dificuldades.

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Isto já era um problema antigo, mas com a atual crise — tanto pandémica como económica — os estudantes e as suas famílias perdem rendimentos a cada dia que passa e torna-se difícil continuarem a suportar os custos do ensino superior”, disse.

Foi o caso de Tomás Caeiro, aluno da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, que teve de abandonar a licenciatura contra a sua vontade, decisão que lhe trouxe “uma dor enorme”.

“Nós queremos todos aprender, mas não podemos por causa de situações que nos são exteriores”, nomeadamente a falta de meios, explicou o estudante, que defende a necessidade de reformas urgentes neste momento por causa da crise.

Também Madalena Lima, aluna da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, sublinhou que “é urgente acabar com a propina, democratizar o ensino e cumprir os valores de abril” dadas as dificuldades sentidas pelos alunos.

Depois de relatar a existência de “casos de estudantes que têm de decidir entre pagar propinas e comer”, João Pereira, aluno do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa, afirmou que “os estudantes não vão desistir de lutar pelos seus direitos, por um ensino superior público, gratuito e de qualidade”.

Na Assembleia da República, para além de muitos megafones, um tambor acompanhou o ritmo das exigências dos manifestantes, que vão para além do fim das propinas e incluem mais investimento em ação social, bolsas e residências, bem como melhores condições nas faculdades.

A deputada do PCP Alma Rivera compareceu na manifestação para demonstrar o seu apoio e anunciar que o grupo parlamentar vai apresentar novamente uma proposta para responder a estas reivindicações, as quais, disse, “não são apenas um direito de cada um dos estudantes de seguir o seu percurso académico, como também um investimento para o país”.

Não podemos olhar para o ensino superior meramente como uma despesa. Temos de olhar como um investimento para um futuro que queremos mais desenvolvido, mais próspero e melhor para todos”, acrescentou.

Ministro considera “natural” protesto dos estudantes

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, considerou “natural” esta manifestação dos estudantes do ensino superior contra o pagamento de propinas.

“É natural que os jovens se manifestem e é bom que haja ativismo estudantil, cá estaremos para resolver todos os problemas e para fazer com que ninguém abandone o ensino superior”, firmou o governante aos jornalistas à margem da inauguração do Centro de Valorização e Transferência de Tecnologia (CCTT) e Laboratório Colaborativo (CoLab) especializado na temática da água, AquaValor, em Chaves, no distrito de Vila Real.

Manuel Heitor sublinhou que atualmente mais de metade dos jovens com 20 anos estão no ensino superior, mas que, contudo, o Governo quer mais. Daqui a dez anos, o Governo quer ter seis em cada dez jovens no ensino superior, especificou.

Estamos a trabalhar dia após dia para ninguém abandonar o ensino superior, pelo contrário, queremos trazer mais jovens para o ensino superior”, ressalvou.