Entre 60.000 a 100.000 pessoas que viviam na capital da Somália, Mogadíscio, estão deslocadas à força, após os confrontos de domingo entre duas fações do exército sobre a crise no governo do país, disse esta quarta-feira a ONU.

“Estou extremamente preocupado com a deterioração da situação de segurança em Mogadíscio”, afirmou o coordenador humanitário da Missão de Assistência das Nações Unidas na Somália (Unsom), Cesar Arroyo, num comunicado.

“Para além de deslocar civis inocentes, a violência inicial criou incerteza e medo de haver perturbações na ajuda humanitária a centenas de milhares de pessoas vulneráveis”, disse Arroyo.

Entre os afetados estão não só os residentes da capital, mas também deslocados internos somalis que tinham ido para Mogadíscio, de outras partes do país, em busca de refúgio e que, agora, foram novamente deslocados para a periferia da cidade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O deslocamento causado pelo conflito na Somália aumentou este ano: desde janeiro, cerca de 173.000 pessoas tiveram de fugir das suas casas, incluindo cerca de 50.000 deslocados pela violência em vários locais, nas regiões de Galgaduud (centro) e Mudug (centro-norte) e no estado do Sudoeste.

Entretanto, conflitos violentos entre fações opostas do exército — a favor e contra a prorrogação por dois anos do mandato presidencial de Mohamed Abdullahi Mohamed Farmaajo —ocorreram no domingo passado em Mogadíscio.

A resolução, votada pela Câmara do Povo (câmara baixa do parlamento) a 12 de abril e assinada pelo Presidente no dia seguinte, violou o acordo de 17 de setembro, o que enfureceu a oposição e as potências e instituições estrangeiras, que finalmente fizeram Farmaajo ceder, renunciando à prorrogação no início da manhã desta quarta-feira.

O chefe de Estado somali apelou ainda ao reatamento das negociações para a implementação do acordo, assinado pelo Presidente e pelos líderes regionais, que estabelece um roteiro para a realização de eleições.

De acordo com o pacto, as eleições deveriam ter sido realizadas em fevereiro, mas foram adiadas por desacordos políticos.

O problema causado pela crise política e pelo conflito foi agravado pela seca no país, responsável pela deslocação de mais de 83.300 pessoas nos últimos quatro meses, afirmou também na semana passada o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).

O coordenador humanitário em exercício da ONU no país salientou, contudo, que “ao contrário dos últimos dois anos, a maior parte da deslocação na Somália este ano está relacionada com conflitos”.

A Somália encontra-se em estado de guerra e caos desde 1991, quando o ditador Mohamed Siad Barre foi derrubado, deixando o país sem um governo eficaz e nas mãos de milícias e senhores da guerra islâmicos.