Não há duas sem três, não há três sem quatro. A palavra “história” e seus derivados ganharam uma conotação quase vitalícia quando se fala da Seleção de andebol. É certo que existe uma “derrota” que ninguém esqueceu ou esquecerá, como se viu durante o hino em que mais uma vez os olhos em lágrimas e nostálgicos recordaram a imagem do eterno Alfredo Quintana, mas foi também por ele e com ele que Portugal atravessa a melhor fase de sempre na modalidade, que terá prolongamento no próximo verão com a presença em Tóquio.

Foram mesmo Heróis do Mar: Portugal vence França nos últimos segundos e está nos Jogos Olímpicos!

No início de 2020, vencendo encontros contra adversários que pareceram sempre gigantes de outro nível como a França, a Bósnia, a Suécia ou a Hungria, a Seleção alcançou um inédito sexto lugar no Campeonato da Europa. No arranque de 2021, com mais um total de quatro vitórias e uma bola ao poste na última jogada do encontro com a Noruega que iria permitir a passagem aos quartos, a Seleção fez também o melhor registo num Mundial, acabando no décimo lugar. Em março, já depois do trágico desaparecimento do luso-cubano, a Seleção foi ainda mais acima e, após triunfos com Tunísia e França (este com golo de Rui Silva a cinco segundos do final, após uma desvantagem de seis na primeira parte), conseguiu pela primeira vez garantir presença nos Jogos Olímpicos, naquela que foi a primeira modalidade coletiva de pavilhão a representar Portugal na prova.

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Uma grande história sem o merecido final feliz: Portugal perde com Alemanha e termina Europeu no sexto lugar

De sucesso em sucesso, os comandados de Paulo Pereira foram a Israel na quinta e penúltima jornada de qualificação para o Campeonato da Europa a necessitarem apenas de um empate depois de três vitórias (Israel, Lituânia e Islândia em casa) e uma derrota (Islândia fora) mas conseguiram nova goleada depois do 31-22 em Matosinhos da primeira jornada, desta vez por 41-29, garantindo a sétima presença na fase final de um Europeu, agora organizado por Hungria e Eslováquia, depois de 1994, 2000, 2002, 2004, 2006 e 2020.

Rui Silva, Gilberto Duarte, Diogo Branquinho, Pedro Portela, André Gomes, um enorme Humberto Gomes na baliza, de regresso após uma lesão que promoveu a aposta em Gustavo Capdeville e Manuel Gaspar. Portugal teve uma entrada imperial em campo, com uma vantagem inicial entre transições, contras e ataque organizado que chegou rapidamente ao 5-0 apenas em cinco minutos. O domínio total de Portugal manteve-se nos minutos seguintes, com vantagens de 11-3 e 14-6 que se registava aos 15 minutos com quatro golos de André Gomes e outros tantos de Diogo Branquinho, antes de um maior equilíbrio até ao intervalo que chegou com 22-13.

No segundo tempo, Portugal foi sobretudo gerindo a vantagem, num bom espectáculo para o público presente na Drive in Arena, em Telavive, e fechou o triunfo por 41-29, isolando-se no primeiro lugar do grupo (embora passem os dois primeiros) depois da surpreendente derrota da Islândia frente à Lituânia (29-27). Mais do que ganhar a Israel, mais do que confirmar o favoritismo agora na última ronda com a Lituânia, o grande desafio agora de Paulo Pereira é agora escolher apenas 14 jogadores (mais um, para ficar de reserva) para os Jogos Olímpicos porque entre os regressos de Humberto Gomes, Gilberto Borges e Alexis Borges e a aposta em Sérgio Barros, Portugal tem agora tanta qualidade numa mescla de três gerações que o difícil é mesmo optar.