O antigo consultor de comunicação da Doyen Francisco Empis admitiu esta quarta-feira que o fundo poderia ter uma estratégia de comunicação para criar uma “narrativa” sobre alegadas tentativas de extorsão com origem no Football Leaks a outras entidades. Já o jornalista e investigador italiano Pippo Russo defendeu o contributo do “Football Leaks” para uma maior transparência nos negócios do futebol e uma maior exigência dos adeptos em relação ao acesso à informação.

Na audição realizada na 38.ª sessão do julgamento no Tribunal Central Criminal, em Lisboa, O ex-consultor de comunicação da Doyen — arrolado pela defesa do arguido Rui Pinto — foi questionado se tinha conhecimento de outras entidades alvo de tentativa de extorsão. “Não me recordo”, começou por dizer Francisco Empis.

De seguida, os advogados do criador do Football Leaks perguntaram se essa seria a “narrativa da Doyen”, recorrendo a declarações do consultor em 2016 a diferentes órgãos de comunicação social. “Pode ter sido, mas o principal foi sempre focado na Doyen”, anuiu o consultor de comunicação, que disse ter trabalhado apenas em regime de prestação de serviços para o fundo de investimento entre 2015 e final de 2017.

Em simultâneo, confirmou ter conhecido o jornalista Augusto Freitas de Sousa, cujo contacto lhe foi passado por outro colaborador da Doyen: Pedro Henriques. Numa anterior sessão do julgamento, foi revelado que o nome do repórter foi sugerido pelo inspetor-chefe da Polícia Judiciária (PJ), Rogério Bravo, aos representantes do fundo de investimento.

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“Tive um encontro com ele e expliquei a versão dos factos da Doyen. A finalidade do contacto era essa. Não tenho a certeza, mas creio que não (produziu informação)”, esclareceu Francisco Empis a propósito deste contacto, frisando não ter recebido qualquer documento de Pedro Henriques para esse encontro.

Investigador italiano defende contributo do site para a transparência

Já o jornalista e investigador italiano Pippo Russo defendeu o contributo do “Football Leaks” para uma maior transparência nos negócios do futebol e uma maior exigência dos adeptos em relação ao acesso à informação.

“Seguramente há uma maior transparência no futebol, mas algo mais importante também: uma maior exigência. Os adeptos têm consciência disso e querem também cada vez mais transparência”, afirmou o autor de obras na área do futebol, nomeadamente “A Orgia do Poder”, publicada em 2017 e que retrata “a história nunca contada de Jorge Mendes”.

Ouvido como testemunha de defesa de Rui Pinto na 38.ª sessão do julgamento a decorrer no Tribunal Central Criminal de Lisboa, Pippo Russo relembrou que foi a partir das revelações da plataforma eletrónica criada em 2015 por Rui Pinto que surgiram várias ações judiciais a nível internacional visando, sobretudo, potenciais ilícitos fiscais de grandes figuras do futebol europeu, como os jogadores Cristiano Ronaldo e Lionel Messi.

Destacando a importância do “Football Leaks” para se saber que “havia uma economia paralela no futebol”, o investigador italiano notou que até então “as regras eram um pouco vagas” nesta área. E perante a dimensão das informações divulgadas pelo site, manifestou a sua convicção de que este trabalho seria obra de mais do que uma só pessoa.

“Comecei a associar Rui Pinto ao ‘Football Leaks’ depois de os meios de comunicação social o revelarem. Sempre achei que havia mais do que uma pessoa por trás do ‘Football Leaks’. Pensava que uma pessoa não podia gerir uma operação desta dimensão”, resumiu.
O julgamento prossegue esta quinta-feira com as audições das testemunhas Nuno Ferreira, Pedro Bragança e Francisco Louçã.

Rui Pinto, de 32 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.

O criador do “Football Leaks” encontra-se em liberdade desde 7 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.