Na antevisão à partida entre Tondela e Benfica, Jorge Jesus tinha analisado o clima tenso que se vive nos bancos no futebol português, com vários treinadores a serem expulsos — com Sérgio Conceição e Rúben Amorim à cabeça. O técnico encarnado admitiu que os bancos têm sofrido com o desgaste dos constantes “levantamentos” das equipas técnicas. Disse Jesus que toda a gente se levanta: “Levantam-se os jogadores, o roupeiro, o médio. Até o gato, se estiver lá o gato”.

Foi mais um momento visionário de JJ, porque esta tarde, em Tondela, qualquer adepto de futebol se levantaria — no bom sentido — para aplaudir o golaço de Everton Cebolinha. Até o gato. Foi o ponto alto de uma partida completamente dominada pelos encarnados, mas que também teve história antes e depois. Vamos voltar então à altura em que até o gato, o pai ou o neto se estavam a juntar no sofá.

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O Benfica entrou em campo com uma alteração principal que mudou toda a estratégia: por estar fora, por suspensão, Otamendi deu o lugar ao regresso de Gilberto e também da linha defensiva tradicional com quatro homens. Grimaldo ficou na esquerda, Vertonghen e Lucas Veríssimo ocuparam o meio, e Gilberto ficou com a ala direita. Alterações que deram mais velocidade às alas do Benfica, com Gabriel a baixar para uma linha de três quando fosse preciso.

E foi mesmo pelas alas que o Benfica começou a criar… e a toda a velocidade. Tanta velocidade que Haris Seferovic voltou a falhar um golo cantado. Pelo segundo jogo consecutivo, o avançado suíço falhou um golo certo, num lance tirado a papel químico da partida frente ao Santa Clara. Cruzamento de Grimaldo, da esquerda, rasteiro, e Seferovic encostou, mas por cima.

Seferovic não recuperou do lance, mas recuperou o Benfica: 15 minutos de total domínio e muitas ocasiões de golo, com Everton a pegar na batuta do desequilibrio: primeiro tentou de cabeça, de chapéu, mas Trigueira negou sempre. Tentou então oferecer e conseguiu: golo de Pizzi, num remate cruzado sem hipóteses. 1-0 com 10 minutos de jogo. Um golo que o coloca no livro dourado do Benfica. Com este golo, o hoje capitão fez o tento nº 91 com a camsiola encarnada e ultrapassa JVP, de seu nome João Vieira Pinto.

Depois disto, foi o momento em que todo o banco e até o gato — onde quer que ele esteja — se levantou. Everton recebeu um passe de 30 metros na esquerda. Variou para o meio numa cartada habitual do brasileiro. Puxou atrás e num remate em arco foi vê-la a entrar. É daqueles golos que são marcados em câmara lenta. Um golo que ganha ainda maior preponderância por ser redondo. Foi o golo nº 100 dos encarnados neste campeonato e, para além disso, o Benfica iguala o FC Porto como equipa com mais golos no campeonato.

A partir daqui, principalmente na segunda parte, os encarnados geriram o jogo. Com alguns sustos, é certo, mas têm sido raras as vezes esta época em que o Benfica arranca de forma tão exuberante e descansa depois com bola. Uma gestão que criou um outro jogo dentro do próprio jogo: um duelo entre Mario González e Helton Leite. E atenção ao avançado do Tondela.

Mario González tem 13 golos no campeonato e é o terceiro melhor marcador da prova. Numa altura em que muito se fala de Beto — avançado do Portimonense e com toda a justiça se fala –, a verdade é que González mostrou na segunda parte (quase) todos os atributos que lhe têm valido golos: muita mobilidade, boa capacidade física e principalmente facilidade de remate.

Foram várias as vezes em que o avançado espanhol ficou na cara do golo, para mais um bela exibição de Helton Leite, novamente sem sofrer. O guarda-redes brasileiro mostrou-se especialmente atento aos remates cruzados e às saídas sem bola: foi sempre rapidíssimo na mancha. Em 11 jogos pelo Benfica na Liga, são 7 (!) jogos sem sofrer golos, uma marca assinalável.

O que também é assinalável e que fará certamente todos os “gatos” benfiquistas “pregarem-se” ao sofá mais logo é a distância para o segundo classificado FC Porto. Com esta vitória em Tondela, o Benfica fica a apenas um ponto dos “dragões” à condição. E a condição é mesmo essa: ver o jogo entre FC Porto e Famalicão, que já se joga no Dragão. Ou se levantam todos do sofá e do banco ou ficará tudo para as quatro jornadas que faltam do campeonato.