O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, admitiu este sábado conversar “sem bota-abaixismos” com o Governo PS sobre o Orçamento do Estado de 2022, mas avisou o primeiro-ministro, António Costa, que o partido “não assina de cruz”.

“O Governo e António Costa conhecem-nos. Nós não agimos por cálculos políticos, agimos em conformidade com a realidade, com os problemas”, afirmou Jerónimo de Sousa, em declarações aos jornalistas, à margem da manifestação do Dia do Trabalhador, organizada pela CGTP, em Lisboa, num comentário à entrevista do primeiro-ministro ao DN, JN e TSF, na qual afastou o cenário de crise política no Orçamento.

Logo a seguir, Jerónimo de Sousa afirmou que, na resposta à crise pandémica, “o Governo ficou muito aquém do que anunciava” e até do que está previsto no Orçamento do Estado de 2021.

Se o executivo do PS, que depende de acordos com os restantes partidos para a aprovação do Orçamento no parlamento, quiser dar resposta “aos anseios” dos manifestantes neste 1.º de Maio, então os comunistas admitem conversar “sem bota-abaixismos”.

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“Procuraremos sempre que a vida fique melhor para quem trabalha, para quem tem uma pequena empresa”, disse, afirmando também que o PCP “não assina de cruz” um documento, o Orçamento do Estado, que ainda não conhece. “Não peçam ao PCP que as coisas andem para trás“, disse ainda.

O líder dos comunistas sublinhou que a “grande disponibilidade” do partido será analisar as propostas do Governo para fazer face à “situação dramática”, social e económica, no país.

“Será perante as propostas concretas que agiremos, votaremos e decidiremos”, insistiu, quanto ao Orçamento, dizendo que o partido não “viabiliza uma coisa que não conhece”.

Face à “situação preocupante” no país é preciso, disse, que o Governo diga “que resposta vai dar” ao “aumento do desemprego” ou ainda ao aumento “da desvalorização dos salários dos trabalhadores”.

Jerónimo de Sousa prometeu que os comunistas se oporão a opções no orçamento que signifiquem uma “política de secundarização de quem trabalha, de quem tem uma pequena empresa”.

O primeiro-ministro, António Costa, disse este sábado acreditar que Portugal está a viver uma “fase de viragem” no combate à pandemia de covid-19 e afastou cenários de crise política, incluindo na negociação do próximo Orçamento do Estado.

Em entrevista aos diários DN e JN e à rádio TSF, António Costa disse não recear uma crise na negociação do próximo orçamento e à questão de saber se pondera demitir-se se não for aprovado disse não colocar esse cenário.

“As pessoas têm todas bom senso. Há alguém em Portugal, perante uma pandemia, perante a maior crise económica que o país alguma vez enfrentou – ou, pelo menos, nas últimas décadas – e uma crise social brutal, alguém pode desejar correr o risco de contribuir para uma crise política? Só num grau de insanidade total. Esse cenário é puramente académico e especulativo”, justificou.

Sobre o Dia do Trabalhador, Jerónimo afirmou que “mais do que uma comemoração”, é “uma jornada de luta, num quadro difícil” como o que tem sido “vivido e em que é tempo de valorizar o trabalho e os trabalhadores”

Um ano depois da polémica com as comemorações de 2020, este ano o Dia do Trabalhador já não foi assinalado em estado de emergência devido à pandemia, tendo mais pessoas do que no ano passado.

Olhando para a alameda D. Afonso Henriques, afirmou que “é um maio de esperança que aí está”, provando que “é possível exercer liberdades, direitos e manter a proteção sanitária, com máscara e distanciamento”.