Goa “é um dos grandes centros de difusão da língua portuguesa” e das culturas lusófonas “em toda a Ásia”, afirmou à Lusa a professora do Departamento de Português e de Estudos Lusófonos daquele Estado Loraine Barreto Alberto.

“Acho que Goa, por um conjunto de razões, é um dos grandes centros de difusão de língua portuguesa e das culturas dos países lusófonos em toda a Ásia, reunindo condições ímpares para formação e certificação das aprendizagens” em português, sublinhou a professora de história da literatura portuguesa.

O Departamento de Português e de Estudos Lusófonos da Universidade de Goa “é o único” em toda a Índia que oferece cursos de ensino superior a nível de licenciatura e mestrado em língua portuguesa, apontou, considerando que tal confere à antiga capital do estado português na Índia “um estatuto incomparável na região do sudoeste asiático”.

“Tivemos 94 alunos a obter o grau académico de mestrado” entre 2008 e 2020, referiu a académica, que também leciona literatura indo-portugesa (literatura goesa escrita em português).

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“Neste ano letivo, temos seis discentes matriculados no curso de bacharelato e 17 no mestrado” e, “desde o ano passado, três alunos inscritos em doutoramento”, disse.

Criado em 1987, primeiro com a designação de departamento de português, o departamento viu o programa de mestrados em língua portuguesa ser inaugurado dois anos depois.

Durante 12 anos, entre 1989 e 2001, “concluíram o mestrado 39 alunos”, disse.

Fechado entre 2001 e 2005, o departamento reabriu em 2006, numa primeira fase apenas com “cursos livres de língua portuguesa” e, a partir 2008, novamente com mestrados, naquela altura com oito alunos.

Entretanto, a partir de 2014/2015, “assumiu a sua nova designação de departamento de português e de estudos lusófonos”, conta Loraine Barreto Alberto, que ali dá aulas desde 2017.

De 2008 até 2020, o número de alunos foi aumentando, chegando atualmente, no acumulado, a quase uma centena de mestrados.

“É um curso totalmente em português, temos alunos de outras partes da Índia”, apontou a professora assistente.

Se, numa primeira fase, as turmas eram compostas por 50% de alunos goeses e outra metade de outras partes da Índia, desde 2017 esta tendência tem vindo a mudar, com um aumento dos alunos que chegam de fora.

Aqui faltam empregos para candidatos com formação académica e fluência em português, não existem praticamente empresas multinacionais sedeadas em Goa que necessitem de especialistas em português, ao contrário de outros estados e cidades da Índia”, explicou Loraine Barreto Alberto.

“Ter um diploma avançado abre (aos que vêm de outras partes da Índia) imensas possibilidades de obterem um emprego e uma remuneração boa, [enquanto] em Goa praticamente a única carreira que os alunos” podem aspirar “é no ensino como saída profissional” como graduados do departamento com o mestrado.

Questionada sobre se há mais alunos ou alunas a procurar a formação, a professora disse que é “50/50”.

Depois de um período de falta de professores em português, que se fez sentir até 2010, atualmente o departamento conta com seis.

“O Governo aqui em Goa tem apostado bastante neste departamento”, disse, salientando que desde 2014 abriram quatro vagas para professores assistentes, as duas últimas preenchidas “no ano passado”.

O corpo académico é constituído por um professor assistente de Lisboa, que foi contratado por um período de cinco anos, e contam ainda com o apoio do Instituto Camões, responsável pelo centro de língua portuguesa em Goa.

Também no âmbito dos estudos indo-portugueses o departamento tem vindo a crescer desde que, em 2016, foi criada a cátedra Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara, uma parceria entre a Universidade de Goa e o Instituto Camões, cujo objetivo principal “era criar as comissões para a implementação do programa de doutoramento em estudos indo-portugueses”.

Durante a vigência deste protocolo — entre 2016 e 2019 — “houve cinco professores convidados a realizar atividades de docência e de conferências, entre outros projetos” e, em cada um desses anos letivos, respetivamente 83 e 94 alunos que frequentaram os cursos oferecidos.

Cultura portuguesa ou introdução aos estudos literários são algumas das disciplinas ministradas no departamento de português e de estudos lusófonos.

Atualmente, as aulas estão a ser lecionadas por via “online”, já que Goa está em confinamento devido à pandemia de Covid-19.

“Aqui em Goa a situação está muito feia nestes dias, uma situação péssima, Goa é um território muito pequenino e cada dia falecem pessoas”, afirmou.