O Grupo Lusíadas Saúde anunciou esta quarta-feira que não vai participar no novo concurso para a parceria público-privada (PPP) do Hospital de Cascais, que gere desde 2009, alegando que as condições apresentadas não garantem a sustentabilidade financeira. Grupo espanhol deverá ser único a apresentar-se a concurso e Carlos Carreiras pede que situação seja “clarificada”.

“O Grupo consultou várias entidades para preparar a sua candidatura e todas concluíram que a proposta apresentada pelo Estado não garante a sustentabilidade financeira do projeto”, adiantou a Lusíadas Saúde em comunicado enviado à agência Lusa.

Segundo a mesma fonte, esta decisão foi esta quarta-feira comunicada ao Governo e surge depois de uma análise “detalhada e exaustiva de toda a documentação e do modelo proposto” para a PPP do hospital de Cascais.

A 13 de fevereiro de 2020, o Conselho de Ministros aprovou uma resolução que previa uma nova PPP no Hospital de Cascais, tendo a ministra da Saúde, já em julho de 2020, numa audição parlamentar a pedido do BE e do PCP, garantido que o recurso a este mecanismo de gestão se destinava apenas para as “situações de necessidade fundamentada”.

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No comunicado desta quarta-feira, o Grupo Lusíadas Saúde assegurou que, de acordo com as entidades que fizeram os estudos e as projeções, as condições propostas “não cobrem a estrutura de custos prevista, prevendo-se a ocorrência de prejuízos crescentes, a partir de 2023, em todos os anos subsequentes da concessão, não sendo possível atingir a sustentabilidade da operação em nenhuma das situações simuladas”.

A Lusíadas Saúde garantiu ainda que mantém a sua intenção de continuar a investir em Portugal e que, apesar dos “fortíssimos impactos negativos provocados na economia” pela covid-19, manteve, em 2020 e 2021, um plano de investimento superior a 50 milhões de euros.

O grupo tinha interesse em concorrer e em continuar o projeto, mas tendo em consideração as condicionantes do modelo proposto no presente concurso, não conseguimos construir uma proposta sustentável que assegure a qualidade e excelência de cuidados que pautam a nossa atuação”, referiu Vasco Antunes Pereira, presidente do Grupo Lusíadas, citado no comunicado.

A Lusíadas Saúde, que geriu esta unidade de saúde nos últimos 12 anos, salientou ainda que a Federação Internacional dos Hospitais colocou o Hospital de Cascais numa lista de 103 instituições, a nível mundial, que prestaram serviços de excelência no combate à pandemia de covid-19 e que esta PPP “poupa atualmente ao Estado português 17,5 milhões de euros por ano”.

O grupo tem uma rede de seis hospitais e sete clínicas de norte a sul do país e, segundo dados disponibilizados, realiza, por ano, mais de um milhão de consultas e 42.000 cirurgias.

Grupo espanhol deverá ser o único disponível para avançar com PPP

Com a saída do grupo Lusíadas Saúde, só se conhece mais um concorrente conhecido a esta PPP — o grupo espanhol Ribera Salud, que desde 2017 que está interessado no negócio, indicou em janeiro o jornal ECO.

Pertencente à Centene e ao Banco Sabadell, o grupo, “desde 1999, tem sido convidado em diversas ocasiões por representantes da Administração Pública, entidades, associações profissionais, universidades de Portugal para divulgar a sua experiência e conhecimentos no modelo público-privado, visto que a Ribera tem participado desde o início no desenvolvimento do modelo público-privado de saúde”, apontou fonte oficial da Ribera ao jornal digital.

Carlos Carreiras pede clarificações e está preocupado com transição

O presidente da câmara de Cascais, Carlos Carreiras, considera que há três opções disponíveis: “Reverter a opção da PPP, oferecendo a gestão ao Estado”, “mandar abaixo o concurso” ou que haja “outro grupo a concorrer e que apresente proposta salvaguardando os serviços” e exige ao ministério da Saúde “clarificações”, esperando ainda que não haja “questões ideológicas e políticas a sobrepor-se aos cuidados de saúde da população”.

O autarca revela ainda preocupação com a “fase de transição” na gestão do hospital e espera que não haja “uma deterioração dos cuidados de saúde”, tendo em consideração ainda o cenário de “graves dificuldades” que o Hospital Amadora-Sintra atravessa e que serve os sintrenses, que também acorrem aos serviços do Hospital de Cascais.

Notícia atualizada às 19h10 com declarações de Carlos Carreiras e sobre grupo espanhol