A presidente da Junta de Freguesia de Longueira-Almograve, no concelho de Odemira, manifestou-se esta sexta-feira contra a continuidade da cerca sanitária, decretada pelo Governo, devido à pandemia de Covid-19, considerando a situação “altamente penalizadora para todos”.

“Ninguém concorda, nem eu, nem os habitantes e muitos menos os empresários. Isto está a penalizar todos. As pessoas estão revoltadas”, desabafou a autarca de Logueira-Almograve, Glória Pacheco, em declarações à agência Lusa.

Esta é uma das duas freguesias — a outra é São Teotónio — do concelho de Odemira, no distrito de Beja, que estão em cerca sanitária desde a semana passada devido à elevada incidência de Covid-19 entre os imigrantes que trabalham na agricultura.

Esta quinta-feira, em Conselho de Ministros, o Governo decidiu que a cerca sanitária aplicada nas duas freguesias vai manter-se, mas com “condições específicas de acesso ao trabalho”, a partir de segunda-feira.

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Glória Pacheco insistiu que “não há ninguém que concorde”, na freguesia, com o prolongamento da cerca sanitária, tendo em conta “os números” relacionados com a Covid-19 de que se ouvem falar na zona.

“Ouvi dizer que tínhamos três casos e que, entretanto, tinham baixado, mas não tenho conhecimento oficial” da situação, frisou a presidente da junta, lembrando que o que se sabe é através do boletim epidemiológico divulgado pela câmara municipal.

Acreditando que os casos de infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2 na sua freguesia são “baixos”, Glória Pacheco considerou que “a cerca já não faz sentido”, porque o objetivo desta medida “é sanar um problema de saúde pública”.

“Assim, parece que o objetivo é mesmo ‘matar’ todo o tecido empresarial da região”, vincou.

A autarca contou que há “muita gente” a ligar para a junta “a perguntar o número de infetados” com Covid-19 na freguesia e outros a questionar “o critério” das autoridades para a manutenção da cerca sanitária: “o critério e os números só as entidade competentes é que conhecem”.

Na conferência de imprensa após a reunião de quinta-feira do Conselho de Ministros, em Lisboa, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, referiu que as duas freguesias permanecem na primeira fase do atual processo de desconfinamento no continente português, relativa a 15 de março.

“O Governo decidiu manter a cerca sanitária, considerando, no entanto, e ao contrário do que acontecia até aqui, a possibilidade de haver condições específicas de acesso ao trabalho, definidas pela senhora ministra da Saúde e pelo senhor ministro da Administração Interna, e para casos excecionais e de urgência que necessitem de entrar naquele concelho”, afirmou.

Sem especificar as condições em causa, a ministra referiu que se aplicam a partir de segunda-feira, depois de o concelho de Odemira, ter baixado o nível de incidência de Covid-19.

A verdade é que o concelho de Odemira, que já ultrapassou incidências de 1.000 (casos) por 100.000 habitantes, tem agora pouco mais de 240 por 100.000 habitantes”, indicou.

O fim da cerca sanitária, definida na semana passada, foi reivindicado já pelo município, que na quarta-feira formalizou esse pedido ao primeiro-ministro, António Costa.

Apesar da manutenção da cerca decidida, Mariana Vieira da Silva admitiu que, se Odemira continuar na atual tendência decrescente de casos de Covid-19, “é possível, é provável que na próxima quinta-feira esta situação seja reavaliada”.