Autores da proposta de criação de Escolas de Verão e tutorias para os alunos recuperarem as aprendizagens alertaram esta sexta-feira que é preciso “começar a atuar já” para que os projetos estejam operacionais a tempo.
“É muito relevante começar a atuar já“, afirmou o investigador Pedro Carvalho, um dos especialistas ouvidos esta sexta-feira durante a audição parlamentar pedida pelo PSD para discutir a recuperação das aprendizagens perdidas durante o ensino à distância devido à pandemia de Covid-19.
A criação de Escolas de Verão e de tutorias para os alunos do 1.º ao 9.º ano são propostas de um grupo de investigadores da Nova School of Business and Economics (SBE), previstas no estudo “Aprendizagens perdidas devido à pandemia: Uma proposta de recuperação”.
O estudo foi apresentado há cerca de um mês ao Governo e esta sexta-feira no parlamento Pedro Carvalho lembrou que “a implementação destes programas traz desafios”. Para efetivar os planos é preciso, em primeiro lugar, sinalizar os estudantes mais afetados pela pandemia, ou seja, saber “quem são os alunos a quem precisamos mesmo chegar”, disse.
Além disso, é preciso contratar e formar tutores e estes são processos que “podem ser alongados no tempo“, alertou. O especialista defendeu que é preciso “começar atempadamente de forma a estarem operacionais no verão e no próximo ano letivo”.
O alerta foi partilhado pelas deputadas Ana Rita Bessa, do CDS-PP e Cláudia André, do PSD, que se manifestaram preocupadas com o silêncio da equipa multidisciplinar criada pelo Governo para apresentar recomendações que minimizem os impactos do confinamento.
Preocupa-nos que um grupo de trabalho anunciado no final de março que daria resultados em abril ainda não tenha tido uma palavra a dizer”, disse Cláudia André.
“Quando deveríamos ter discutido tudo isto em setembro de 2020, ainda estamos, em maio de 2021, a decidir o que acontecerá em setembro de 2021. Preocupa-nos esta dificuldade de resposta do Ministério”, acrescentou a social-democrata.
Também a deputada do CDS-PP questionou o calendário do projeto: “Quando vejo o Governo a dizer que vai fazer um plano de recuperação de aprendizagens, eu tremo, porque sei que vai demorar”, criticou Ana Rita Bessa, sublinhando que os projetos deveriam estar prontos para “começar no verão ou no início do próximo ano letivo, em pleno”.
Sobre a audição dos especialistas convidados, a deputada do PSD considerou que “o contexto pandémico revelou que o Ministério da Educação não tem capacidade de resposta, nem teve. Os estudos demonstraram que o Ministério não adotou medidas corretivas para alunos vulneráveis, não realizou os testes de diagnóstico adequados, não teve formação de professores adequada, não teve resposta tecnológica adequada”.
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Cláudia André defendeu que a solução deve passar por investir em recursos humanos, recursos pedagógicos e digitais adaptados ao ensino à distância e na investigação de equipas de apoio para apoiar atividades pedagógicas e formação de professores.
“Foram as escolas que estiveram na linha da frente“, conseguindo responder às necessidades locais e, por isso, o ministério “teve o seu trabalho facilitado”, criticou a deputada social-democrata.
“Este ministério deve apenas pensar nas linhas estratégicas e orientadores para que as escolas devam seguir um caminho, mas também forneça os meios financeiros, humanos e materiais necessários à sua autonomia a fim de dar as respostas adequadas às necessidades, que de escola para escola tanto são diferentes”, acrescentou.
O diretor de Educação da OCDE, Andreas Schleicher, saudou Portugal pela rapidez com que introduziu o ensino à distância e a telescola e por ter sido um dos países que conseguiu manter o ensino presencial por mais tempo, juntamente com a Alemanha e a Dinamarca.
A nível mundial, disse, não se verificou uma relação entre agravamento da pandemia e encerramento dos estabelecimentos de ensino: “Alguns sítios mantiveram as escolas abertas numa situação muito grave” e outros “fecharam-nas antes de fecharem os centros comerciais”.
“Portugal manteve as escolas abertas para as crianças mais novas e em situações mais complicadas“, lembrou Andreas Schleicher, um dos convidados da audição, considerando que “esta foi a escolha acertada”.
O representante da OCDE sublinhou também o trabalho dos professores — o seu “papel foi serem bom treinadores, mentores e assistentes sociais” — e alertou que “será mais fácil recuperar as perdas académicas do que o bem-estar”.O especialista referiu ainda que durante a pandemia “a educação teve uma atenção especial, houve um esforço” e recursos financeiros adicionais para pagar as medidas, tal como aconteceu durante a crise de 2008.
Segundo o investigador da Nova SBE, gastar dinheiro em educação é um investimento. Pedro Carvalho disse que ao investir em programas de sucesso escolar garante-se que os jovens completam a escolaridade, permitindo-lhes chegar mais bem preparados ao mercado de trabalho acabando por ter maiores rendimentos no futuro.
No caso da proposta da Nova SBE, o programa é apresentado de uma forma muito flexível, permitindo várias opções, como por exemplo criar grupos de tutoria com mais ou menos alunos.
As contas feitas pela Nova SBE indicam que este projeto teria um custo entre 3% e 10% do orçamento em educação em 2021, o que Pedro Carvalho garante ser um investimento: “Por cada euro gasto nestes programas poderíamos ter um retorno entre três a dez euros nos próximos 40 anos”.