A Comissão Central de Trabalhadores de Petrogal  acusou esta sexta-feira o primeiro-ministro de cinismo, quando no “toque de finados” da refinaria de Matosinhos “nada disse sobre a distribuição de dividendos”, mostrando-se, no entanto, preocupado com os trabalhadores.

“O primeiro-ministro [PM] veio finalmente a terreno dar o toque de finados pela refinaria e chorar lágrimas de crocodilo pelos trabalhadores envolvidos no despedimento coletivo. No dia em que a administração fez o anúncio, o PM fala em preocupação social e postos de trabalho, mas nada disse ou fez até aqui”, apontou, em comunicado, a Comissão Central de Trabalhadores da Petrogal.

A Galp desligou a última unidade de produção da refinaria de Matosinhos, distrito do Porto, no dia 30 de abril, na sequência da decisão de concentrar as operações em Sines, disse à Lusa, na quinta-feira, o administrador da petrolífera, Carlos Silva.

A empresa vai dar início a um despedimento coletivo de cerca de 150 trabalhadores desta refinaria e chegou a acordo com 40% dos cerca de 400 colaboradores.

Galp avança com despedimento coletivo de 150 trabalhadores de Matosinhos

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De acordo com a Comissão Central de Trabalhadores da Petrogal, o primeiro-ministro, António Costa, “fugiu à conversa” com os representantes dos trabalhadores e nada disse sobre a distribuição de dividendos aos acionistas, onde o Estado é o segundo maior acionista direto”, mas falou sobre a preservação dos postos de trabalho. “Estamos perante o cinismo elevado a um expoente raramente visto”, considerou.

Para esta comissão, as afirmações de António Costa sobre a contribuição do encerramento da refinaria para a redução das emissões constituem um “mega-barrete para os portugueses”, vincando que Matosinhos representa 1,7% das emissões nacionais de dióxido de carbono (CO2).

“Sem a Refinaria do Porto será necessária uma capacidade logística redobrada com recurso a navios e camiões cisterna que incrementarão de forma significativa as emissões de carbono para a atmosfera […]. O ambiente e as preocupações ambientais são legítimos, mas neste caso estão apenas a ser instrumentalizados no sentido de ganhar a opinião pública para concretizar o que será um dos maiores crimes económicos já realizados no país”, concluiu.

A petrolífera justificou a “decisão complexa” de encerramento da refinaria de Matosinhos com base numa avaliação do contexto europeu e mundial da refinação, bem como nos desafios de sustentabilidade, a que se juntaram as características das instalações.

Após ter decidido o encerramento da refinaria, a Galp encetou conversas individuais com os 401 trabalhadores em causa, chegando a acordo com mais de 40%.

“Dentro desses, mais de 100 continuarão a sua atividade, quer no parque logístico de Matosinhos, que manterá as suas funções de abastecimento ao mercado de combustíveis do Norte do país, quer por via da mobilidade interna para as áreas das renováveis, inovação, novos negócios e também para a refinaria de Sines”, precisou o administrador Carlos Silva.

Por outro lado, mais 30% do total dos trabalhadores da refinaria de Matosinhos irão manter-se, pelo menos, até janeiro de 2024, no âmbito das operações de desmantelamento e descontinuação. O Estado é um dos acionistas da Galp, com uma participação de 7%, através da Parpública.