Nos últimos 40 anos, o Atl. Madrid conseguiu apenas ser duas vezes campeão. Na presente época, no final de janeiro, a terceira parecia ser uma questão de tempo perante a vantagem de dez pontos para os rivais diretos na luta – só com dois empates e uma derrota em 21 jornadas. Depois, tudo mudou. O grande balão de uma festa antecipada foi esvaziando ao ponto de chegar a quatro rondas do final sabendo que um último furo rebentava-o de vez, com apenas dois pontos de avanço na classificação sobre Barcelona e Real Madrid. Sim, os colchoneros só dependiam de si. Mas sim, os catalães podiam chegar pela primeira vez à liderança da Liga. Tudo em Camp Nou.

Recuperando esses dois últimos títulos do conjunto de Madrid, os jogos chave foram na Catalunha. Em 1996, com Simeone no meio-campo atrás de um ataque que tinha Pantic, Caminero, Kiko e Penev, a vitória por 3-1 na 37.ª ronda quase arrumou com as contas; em 2014, com Simeone no banco com treinador, o empate a um na última jornada carimbou o título. Agora, não sendo matematicamente decisivo, faria muita diferença. Ainda com Diego Simeone como intérprete mas com dois outros protagonistas a assumirem as despesas do encontro.

Na ressaca daquela que foi a maior humilhação de sempre do Barcelona na Europa, Josep Maria Bartomeu quis fazer uma revolução do plantel dos blaugrana e apostou em Ronald Koeman para comandar a equipa. Num dos primeiros atos, o holandês ligou a Luis Suárez e num minuto dispensou o uruguaio, havendo como argumento os 15 milhões de salário no último ano de contrato que assim permitiria uma “poupança”. A opção acabou por ser um dos últimos argumentos para Lionel Messi avançar com o pedido de rescisão unilateral de contrato, que não seguiria em frente também pelo número de contras acima dos prós que poderia gerar, mas ficou a marca. Pela relação em campo e fora dele com Suárez, o argentino não gostou dessa dispensa. Este sábado, ambos iriam reencontrar-se como adversários no estádio onde costumavam chegar juntos a beber o seu mate.

Messi era a unidade de referência no setor que tem estado em melhor nível nas últimas jornadas no Barcelona e que iria ter pela frente aquela que é a grande referência do Atl. Madrid, a linha defensiva (Oblak incluído, claro). Suárez era a unidade de referência no setor que tem estado mais apagado nas últimas jornadas no Atl. Madrid mas iria ter pela frente aquele que é o calcanhar de Aquiles do Barcelona, a linha defensiva (apesar de Ter Stegen, claro). No final, ambos perderam. Messi porque nunca conseguiu disfarçar sozinho a desinspiração e algo mais do coletivo; Suárez porque nunca conseguiu traduzir o bom jogo coletivo sobretudo na primeira parte. E o nulo acabou por beneficiar o Real Madrid, que passa a depender apenas de si para ser campeão.

O encontro começou com um Atl. Madrid diferente do que se esperava, assente numa grande organização sem bola mas com muito mais capacidade de chegar a zonas de finalização do que tinha acontecido por exemplo no último dérbi com o Real. E foi essa a grande marca que ficou no primeiro tempo, que teve a saída precoce de Lemar por lesão para a entrada de Saúl Ñíguez (pouco depois da meia hora Busquets daria também lugar ao jovem Moriba nos catalães) e muito mais oportunidades para os visitantes desperdiçadas por Correa, Luis Suárez, Marcos Llorente e até Felipe, central que aproveitou uma bola parada para ficar muito perto do golo. O intervalo chegaria mesmo com o nulo e um Barcelona muito longe da dinâmica ofensiva dos últimos encontros, tendo uma chance de maior perigo “inventada” pelo inevitável Messi travado por Jan Oblak.

No segundo tempo, as características mantiveram-se nos minutos iniciais mas, mesmo não tendo propriamente resolvido os problemas que mostrou desde o arranque a nível de construção e de desequilíbrios pelos corredores laterais, o Barcelona melhorou e começou a tornar-se mais perigoso por iniciativa de Messi entre uma espécie de anarquia tática que encontrava no argentino um líder para toda a obra. Ninguém tinha muita qualidade coletiva para isso, ambos precisavam chegar à vitória. Simeone lançou João Félix para o lugar de Saúl Ñíguez, Koeman trocou Dest e Pedri por Sergi Roberto e Dembelé e seria o francês a ter a penúltima oportunidade mais flagrante, num cabeceamento isolado na área após cruzamento de Jordi Alba que saiu por cima, antes de Messi atirar muito perto do poste da baliza de Oblak num livre direto em posição central em cima do minuto 90.

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