Alexander Murakhovsky foi o médico que a 20 de agosto de 2020 recebeu Alexei Navalny, principal opositor de Vladimir Putin, no Hospital de Omsk, depois de este se ter sentido mal no voo em que seguia com destino a Moscovo, e de ter aterrado de emergência naquela cidade siberiana. Na altura, o responsável máximo do hospital recusou qualquer hipótese de envenenamento, e explicou publicamente que o principal antagonista do presidente russo — que se sabe ter sido envenenado com um poderoso agente neurotóxico — tinha sofrido uma crise de pancreatite e hipoglicemia. Menos de um ano depois, Murakhovsky, de 49 anos, voltou a ser notícia, mas por ter sido dado como desaparecido.

Novichok: O toque letal soviético

Na passada sexta-feira deixou a base de caça onde estava, na orla de uma zona de floresta em Omsk, a cerca de 2.200 quilómetros da capital russa, ao volante de um todo-o-terreno. De acordo com a imprensa internacional, o carro foi encontrado nesse mesmo dia, numa cidade a 6 quilómetros e meio de distância, mas Murakhovsky não. Só depois de três dias de buscas, sobretudo por ar — para além de helicópteros foram disponibilizados drones para bater o terreno, pantanoso, o que dificultou as operações por terra —, é que o médico foi encontrado, vivo, ao fim da manhã desta segunda-feira, está a noticiar a imprensa russa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De acordo com a Administração Regional de Omsk, terá sido o próprio médico a encontrar o caminho para fora da floresta e a pedir ajuda à população de uma pequena aldeia. Apesar de aparentemente estar em “boas condições”, Alexander Murakhovsky foi entretanto levado para um hospital local, para ser avaliado. Contactada pelo canal de televisão independente Dozhd, a mulher do médico confirmou que o marido está bem e que já teve oportunidade de falar com ele ao telefone.

Depois de ter tratado Navalny — detido novamente em janeiro deste ano, quando regressou a Moscovo, e entretanto sentenciado a três anos e meio de prisão por um caso antigo —, Alexander Murakhovsky foi promovido a Ministro da Saúde da região de Omsk.

Não foi a única mudança nas chefias do Hospital de Omsk, onde há menos de nove meses o principal opositor do Kremlin (que, por sua vez, continua a negar qualquer envolvimento no caso do envenenamento), chegou entre a vida e a morte. Um dos seus adjuntos, Anatoly Kalinichenko, demitiu-se em outubro de 2020; outro, o intensivista Sergei Maximishin, morreu em fevereiro deste ano, com um ataque cardíaco — tinha 55 anos. Rustam Agishev, diretor do serviço de traumatologia, de 63 anos, morreu um mês mais tarde, depois de em dezembro ter sofrido um AVC.