Um modelo de envelhecimento que atrasa ou evita a institucionalização, e em que cada pessoa tem direito a cuidados consoante as suas necessidades, é a proposta da União das Misericórdias que já foi entregue ao presidente da República.

O documento “Respostas Seniores do Futuro — Um modelo de respostas especializadas integradas” vai ser nesta segunda-feira entregue à ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e ficará também disponível na página da internet da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) para que qualquer pessoa o possa consultar e apresentar sugestões àquele que se apresenta como o “ponto de partida para uma discussão sobre o envelhecimento”.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da UMP apontou que “o pivot de toda a política social de acolhimento para idosos tem sido o lar”, e que a proposta é a de que passe para o apoio domiciliário.

É na casa das pessoas que hoje as pessoas querem ficar e nós devemos cuidar para que as pessoas fiquem mais tempo e isso até agora não era possível porque não havia meios de o fazer, mas as novas tecnologias, a inovação, a transição digital vem permitir isso de uma forma que será cada vez mais segura”, defendeu Manuel Lemos.

O responsável explicou que isso não significa que as Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI), mais conhecidas como lares, desapareçam, “pelo contrário”. “O que se devem é transformar porque os lares foram concebidos num momento em que o perfil do idoso era completamente diferente do perfil que hoje tem”, apontou Manuel Lemos.

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Acrescentou que isso vai obrigar a que sejam consideradas duas questões: a adaptação física dos lares, em termos arquitetónicos, para as pessoas que lá vivem e “recursos humanos diferentes“. “Precisamos de recursos humanos mais qualificados, e daí o apelo que fazemos no sentido da formação, mas também precisamos de outro tipo de recursos humanos”, apontou.

Por outro lado, o documento apresenta a criação de um plano individual de cuidados, uma medida que o presidente da UMP defendeu pelo facto de, apesar de os idosos serem todos diferentes e apresentarem várias doenças e patologias, acabarem “todos tratados da mesma maneira”.

A primeira coisa que se devia fazer a um idoso quando ele é acolhido, seja na sua casa, seja no centro de dia, seja num lar, é fazer um plano individual de cuidado, ou seja, [saber] o que é que este senhor precisa hoje? E estabelecer neste contexto uma articulação grande com o Ministério da Saúde”, disse o responsável.

Nesta matéria, isso significaria também que cada lar teria um médico e que haveria uma “interação mais permanente” entre os hospitais e os centros de saúde e os idosos que estão a cargo das instituições, ainda que estejam nas suas casas.

Na opinião de Manuel Lemos, atualmente não existe articulação com o setor da saúde e diz mesmo que “está a falhar tudo ou quase tudo”, sublinhando que “há algumas coisas que correm bem, mas não por causa do procedimento ou do modelo”.

O plano individual teria também como vantagem que em qualquer momento que a pessoa precisasse de cuidados, nomeadamente em meio hospitalar, o seu historial e as medidas de apoio estivessem imediatamente disponíveis e ele não fosse tratado como um “desconhecido”.

Relativamente ao financiamento necessário para que as propostas apresentadas no documento fossem concretizadas, Manuel Lemos destacou que “qualquer investimento se traduzirá a prazo numa poupança”.

Manuel Lemos frisou também que o objetivo é que o documento reúna o consenso do setor social, sendo que a Confederação das Instituições Particulares de Solidariedade Social (CNIS) já deu o seu apoio.

O documento refere que os “lares são hoje residências de pessoas com muitos anos, duas ou mais doenças crónicas, deterioração cognitiva e mesmo perda funcional grave, necessitadas de cuidados interdisciplinares, cuidados de saúde e, em determinada altura, cuidados paliativos”, apontando que é preciso um novo modelo porque o atual “é desajustado” e porque não existe cobertura em todo o território nacional.

Propõe as “Respostas Residenciais Seniores do Futuro”, em que o foco está na qualidade de vida dos idosos, de modo a “retardar ou evitar a institucionalização, garantindo respostas adequadas à funcionalidade do indivíduo em cada momento da sua vida”.

Nessa matéria, quer também novos conceitos residenciais consoante os diferentes estádios de funcionalidade da pessoa ao logo do seu processo de envelhecimento e pretende promover uma mudança nos padrões de cultura na área sénior e dos idosos em Portugal.

Os cuidados do futuro funcionariam entre cuidados domiciliários, centros de dia e academias sénior, lares e residências apoiadas, com o apoio de serviços tecnológicos.

O presidente da UMP, no seu texto que acompanha o documento, alerta ainda que “nenhuma alteração acontecerá se os Ministérios setoriais persistirem em estar de costas voltadas entre si e o setor solidário”.