É uma batalha antiga, mas a Igreja tenta agora ir mais longe: o Papa Francisco quer excomungar formalmente todas as máfias e já deu ordens para a criação de um grupo de trabalho que estude o assunto.
Como explica o jornal espanhol ABC, a iniciativa poderá ser particularmente útil em países em que estas organizações costumam usar símbolos cristãos para disfarçar a sua verdadeira natureza, como já se verificou nos casos de máfias italianas e na América Latina.
O grupo de trabalho fará parte do departamento de Desenvolvimento Humano do Vaticano e incluirá nomes como o presidente do Tribunal do Vaticano, Giuseppe Pignatone, e a ex-ministra e antiga presidente da comissão parlamentar anti-máfia de Itália, Rosi Bindi, explica o mesmo jornal.
O Vaticano decidiu lançar a novidade num momento simbólico: foi este domingo que a Igreja beatificou o juiz italiano Rosario Livatino, que foi assassinado em 1990, pela máfia siciliana — a ‘Cosa Nostra’ e se tornou assim o primeiro magistrado a ser beatificado. O próprio Papa Francisco lembrou Livatino como um “mártir da justiça e da fé” e um exemplo de integridade, que “nunca se deixou corromper e que julgava não para condenar, mas para redimir”.
Igreja Católica beatifica juiz assassinado pela máfia italiana
Durante a cerimónia foi mostrada como uma relíquia a camisa manchada de sangue do juiz, que serviu de prova nos julgamentos — e condenações — dos autores do homicídio, explica a Lusa. O magistrado, que era um católico fervoroso e se dedicou muito às investigações sobre corrupção, foi assim declarado “mártir do ódio à fé”.
A prioridade dada pelo Papa ao combate às máfias não é de agora: logo em 2014, no ano seguinte a ter-se tornado o chefe máximo da Igreja Católica, Francisco declarou durante uma missa que “os mafiosos não estão em comunhão com Deus, estão excomungados”, definindo a Ndrangheta — uma organização mafiosa calabresa — como um grupo “para a adoração do mal e o desprezo do bem comum”.