Os dias de Marcelo Rebelo de Sousa no Minho têm sido imprevisíveis. Sem notas de agenda oficiais e com muitas alterações de planos ao longo do dia, só uma coisa é certa: sempre que vê um microfone, aproxima-se e responde a todas as perguntas, sobre todos os temas. Neste que foi o seu segundo dia, com a situação de Odemira a dominar a atualidade política e mediática, Marcelo aumentou a pressão: “Têm de se tirar consequências políticas“, exigiu o Presidente da República.

Por esta altura, já António Costa tinha virado a agenda oficial e rumara a Odemira para se encontrar com as autoridades locais. Marcelo antecipou-se ao primeiro-ministro: a 600 quilómetros de Costa, e um par de horas antes, o Chefe de Estado decidiu anunciar o que o líder socialista confirmaria mais tarde: “Fui informado pelo senhor primeiro-ministro de que seria levantada a cerca sanitária hoje mesmo.”

Marcelo, que tem exigido uma resposta concreta no plano social, decidiu revelar mais: a visita de António Costa a Odemira, antecipou o Presidente da República, permitirá a celebração de um acordo “para resolver o problema do alojamento de trabalhadores temporários no imediato”.

Se dúvidas restassem, num momento em que o Governo e Eduardo Cabrita são acusados de terem imposto uma solução contra a vontade dos proprietários do Zmar e sem garantirem as melhores condições para os trabalhadores migrantes, o Presidente da República fez questão de sublinhar as vantagens do “diálogo“, da “paciência” e da “aproximação de pontos de vista” em “democracia” podem ir facilitando o encontro de soluções”. Para bom entendedor.

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Marcelo insiste na profissionalização dos bombeiros

Não foi a única frente de batalha aberta por Marcelo. A quatro dias do fim do prazo definido pelo Governo para a limpeza de terrenos, o Presidente da República dedicou a manhã do segundo dia de roteiro pelo Minho aos incêndios florestais. As roçadoras estiveram desligadas até se ver o Mercedes cinzento que tem levado Marcelo pelos pontos deste roteiro ao fundo da rua. Assim que tiveram o sinal, os nove sapadores começaram o trabalho para Presidente ver. Acabaria por ser uma falsa partida.

Antes de chegar à comitiva que o esperava, o carro de Marcelo acabou por parar junto a mais uma manifestação contra a exploração mineira, desta vez na Serra d’Agra. Perante nove manifestantes que tinham os mesmos lençóis do dia anterior com letras pintadas e onde se lia “Minas, não”; “Vidas, sim; Minas não”, Marcel tranquilizou os queixosos e garantiu: “Eu estou atento“.

Já junto dos bombeiros sapadores, foi o autarca socialista de Caminha, Miguel Alves, a fazer de cicerone e a apresentar as queixas. “Se é verdade que o desemprego é uma coisa boa, também é verdade que com toda a gente empregada há cada vez menos disponibilidade para voluntariado nos bombeiros”, explicou o presidente da Câmara, pedindo mesmo ao Presidente da República que exercesse a sua influência junto do Governo para existisse um maior investimento na profissionalização destes profissionais.

“O caminho tem que ser esse e eu acho que já toda a gente percebeu isso”, atirou Marcelo, antes de deixar novo aviso à navegação: “Vários anos com pouca madeira dão origem a um grande apetite. Por isso, tenham olho vivo“. O destinatário eram os bombeiros que o escutavam, mas o Presidente fez questão de deixar claro que está atento à preparação que o Governo está a fazer da época de maior risco de incêndio.