A comissária para os Direitos Humanos do Conselho da Europa, Dunja Mijatovic, instou a Grécia a pôr fim à devolução ilegal de migrantes nas fronteiras marítimas e terrestres com a Turquia, práticas amplamente denunciadas, especialmente no ano passado.

Numa carta, divulgada esta quarta-feira, aos ministros da Proteção ao Cidadão da Grécia, Mijalis Jrisojoidis; da Migração e Asilo, Notis Mitarakis; e dos Assuntos Marítimos, Yannis Plakiotakis, a comissária mostrou-se preocupada com as “numerosas acusações credíveis” de devoluções sumárias nos últimos anos.

O Governo de Atenas nega veementemente tal situação. Essas acusações, disse a comissária, ocorrem, não só pelos meios de comunicação, mas também por organizações não-governamentais como o Comité para a Prevenção da Tortura (CPT) do Conselho da Europa ou a Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).

Estou profundamente preocupada com o facto de a reação oficial das autoridades gregas muitas vezes ser simplesmente rejeitar as alegações das devoluções sumárias, apesar da grande quantidade de evidências apresentadas nos últimos anos”, disse Mijatovic.

A comissária pediu ao Governo grego que assegure que todas as alegações de devoluções sumárias e maus-tratos por membros das forças de segurança gregas sejam investigadas de forma independente e eficaz.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na sua opinião, essas práticas privam as vítimas de acesso à proteção internacional e, portanto, a Grécia pode estar a violar o artigo 3 da Convenção Europeia dos Direitos Humanos e o princípio de não devolução (conhecido como “não repulsão”) incluído na Convenção de Genebra relativa ao Estatuto dos Refugiados.

A comissária destacou que, de acordo com as investigações, essas devoluções são sistemáticas e realizadas de forma violenta e abusiva por pessoas em uniformes não identificados que detêm os migrantes, lhes retiram os seus pertences pessoais, os colocam em barcos infláveis e os rebocam até às águas turcas. Mijatovic considerou estes atos “claramente incompatíveis com as obrigações de direitos humanos por parte da Grécia”.

Os ministros gregos asseguram que essas acusações foram investigadas e “não foram corroboradas na sua maior parte”.

As autoridades gregas referiram que cumprem o seu compromisso humanitário salvando “as vidas de milhares de migrantes desde 2015”, num trabalho realizado apesar do “quadro desfavorável de informação intencionalmente enganosa proveniente principalmente de redes de tráfico”.

Os ministros Jrisojoidis, Mitarakis e Plakiotakis garantiram à comissária que as operações realizadas pelas autoridades gregas nas fronteiras marítimas estão em total conformidade com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, a Convenção SAR sobre busca e salvamento marítimo e com a legislação europeia.