Os Estados Unidos, o Reino Unido e a Alemanha exigiram na quarta-feira à China o fim da repressão da minoria muçulmana turcófona uigure na região de Xinjiang (noroeste), no decurso de uma videoconferência informal na ONU e criticada por Pequim.

“Em Xinjiang, as pessoas são torturadas, as mulheres são esterilizadas à força”, afirmou a embaixadora norte-americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, durante esta sessão coorganizada pelos três países ocidentais com a Organização não governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW), e que incluiu testemunhos de uigures.

Muitos membros desta minoria, e também de outras etnias, “são obrigados a trabalhar até ao esgotamento, fabricando vestuário e mercadorias a pedido do Estado”, acrescentou, voltando a considerar tratar-se de “genocídio”, como já referido pelo Departamento de Estado norte-americano durante o mandato do ex-Presidente Donald Trump.

“Continuaremos a opor-nos e a exprimir-nos até que o Governo chinês ponha termo aos seus crimes contra a humanidade e ao genocídio dos uigures e de outras minorias no Xinjiang”, disse a diplomata norte-americana.

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A sua homóloga britânica, Barbara Woodward, também afirmou “existirem provas de detenções arbitrárias em massa, desaparecimentos forçados e casos de tortura (…) de trabalhos forçados e esterilização generalizados”. “Estamos aqui hoje para enfrentar os factos. E para pedir à China que autorize um acesso imediato e sem entraves do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos humanos”, precisou.

“Pedimos à China que respeite a declaração universal dos direitos humanos e que proceda à demolição dos campos de detenção”, indicou o embaixador alemão na ONU, Christoph Heusgen. “Se não têm nada a esconder, por que motivo não concordam com um acesso sem entraves do Alto-comissariado para os direitos humanos”, questionou.

Como tem sido habitual, a China respondeu de imediato às denúncias do ocidente sobre os supostos abusos no Xinjiang e assegurou que os Estados Unidos e aliados estão a usar a situação nessa província como “ferramenta política” para atacar Pequim.

É verdade que isto nada tem a ver com direitos humanos no Xinjiang. Trata-se de usar Xinjiang como uma ferramenta política para enfrentar a China”, assinalou o diplomata chinês Jiakun Guo.

O representante de Pequim acusou os Estados Unidos e alguns dos seus aliados de efetuarem uma “presunção de culpabilidade e fabricar alegadas provas”. “Pensem no que aconteceu no Iraque, na Síria, na Líbia. O truque já foi feito muitas vezes e todo o mundo o conhece”, insistiu, qualificando as denúncias de genocídio, trabalhos forçados ou tortura como “a mentira do século”.

Segundo assinalou o diplomata, a China não tem nada a esconder e saúda a deslocação de qualquer organismo a Xinjiang, mas rejeita “qualquer tipo de investigação baseada em mentiras”. “A tentativa de usar Xinjiang para enfrentar a China está condenada ao fracasso”, concluiu.

Na perspetiva da HRW, e com ou sem acesso ao Xinjiang, é necessário um inquérito nesta região, para além da necessária pressão sobre a China para que “ponha fim aos seus crimes contra a humanidade” dirigidos às minorias desta região.

Na segunda-feira, e através de um comunicado, a China pediu a anulação desta conferência “assente em puras mentiras e preconceitos políticos”, assegurando que a situação no Xinjiang “nunca foi historicamente tão boa”.

Diversos países, em particular ocidentais, têm referido a um “genocídio” de que seriam vítimas os uigures. Diversas ONG também acusam a China de perseguir esta minoria e de ter internado desde 2017 perto de um milhão de uigures em campos de reeducação política. O regime de Pequim desmente este número e assegura tratar-se de “centros de formação profissional”, destinados a afastar os uigures do islamismo e do separatismo, após uma série de violentos atentados que lhes foram atribuídos.