O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) entrega esta sexta-feira no parlamento um projeto de lei para proibir a importação ou venda de bens, serviços e recursos naturais “originários de colonatos ilegais em territórios considerados ocupados” pelo Direito Internacional.

No projeto de lei, ainda sem data para debate no Parlamento português, o BE (esquerda) defende que o Governo terá de publicar e manter uma lista de todos os territórios considerados ocupados e que a proibição se aplica a pessoas singulares possuidoras de cidadania portuguesa ou residentes em Portugal, pessoas coletivas e entidades sem personalidade jurídica cujas atividades sejam exercidas em Portugal.

“Pese embora a existência de colonatos ter sido condenada por diversas organizações e instituições internacionais, inclusivamente a União Europeia e a Organização das Nações Unidas, a verdade é que o comércio internacional de bens e serviços, assim como a troca de recursos naturais com territórios considerados ocupados pelo Direito Internacional, continua a ser uma realidade imutável, efetivamente legitimando e fortalecendo económica e financeiramente a potência ocupante”, lê-se na exposição dos motivos.

Para o BE, o caso mais flagrante deste cenário “prende-se com a ocupação de Israel na Cisjordânia palestiniana“, que, desde 1967, “forçou a transferência ilegal, do ponto de vista do Direito Internacional, de mais de 600 mil cidadãos israelitas para os 200 colonatos estabelecidos ilegalmente naquele território”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A política de edificação de colonatos continua a ser a principal causa de violações dos direitos humanos contra os palestinianos e tem sido um dos principais entraves à materialização da solução de dois Estados prevista nos acordos de paz de Oslo”, acrescentam os “bloquistas“.

O BE socorre-se da posição da União Europeia (UE), “que é absolutamente clara“: “a implantação de colonatos é ilegal nos termos do direito internacional, constitui um obstáculo à paz e é suscetível de tornar inviável uma solução baseada na coexistência de dois Estados”.

Apesar disso, os Estados-membros da UE, incluindo Portugal, continuam a tornar os colonatos israelitas financeiramente viáveis, precisamente através das relações comerciais estabelecidas entre as duas regiões, e que resultam na exportação de produtos agrícolas e outros materiais que são produzidos nos colonatos ilegais, sem quaisquer limitações”, denuncia o BE.

Para os “bloquistas” a iniciativa pretende dar cumprimento às obrigações do Estado decorrentes da Quarta Convenção de Genebra relativa à Proteção das Pessoas Civis em Tempo de Guerra e ao abrigo do Direito Internacional Humanitário Consuetudinário, estabelecendo uma estrutura legal de proibição da importação ou venda de bens, serviços e recursos naturais originários de colonatos ilegais em territórios considerados ocupados pelo Direito Internacional.

Nesse sentido, a iniciativa aplica-se a territórios onde existe consenso jurídico internacional sobre o estatuto da ocupação, mas não significa um boicote a bens israelitas, ou mesmo promover um embargo comercial a Israel.

Apenas se prevê a proibição da importação ou venda de bens produzidos em colonatos ocupados ilegalmente por Israel, de acordo com as convenções e resoluções internacionais”, lê-se no projeto de lei.

Sem prejuízo da sua entrada em vigor nos termos gerais, a presente lei produz efeitos no dia seguinte ao da sua aprovação“, lê-se no documento, apresentado numa altura em que se regista uma escalada militar entre Israel e o movimento islâmico Hamas, que governa a faixa de Gaza.