Ao longo de 88 anos de existência, muitas foram as vezes que a Sanjo surpreendeu com novos produtos. Entre sapatilhas com diferentes cores, detalhes e formatos, meias para as acompanhar até às duas primeiras t-shirts da marca, lançadas no ano passado e cujo sucesso antecede a chegada ao mercado, em abril de 2021, da primeira coleção de roupa da marca, sem pés, com cabeça, e produzida integralmente em Portugal.

A Tribe Workwear Collection é uma coleção para homem e mulher, pensada para a primavera/verão de 2021. Com uma modelação oversized e um acabamento vintage, as peças remetem para o workwear de outros tempos, em que as t-shirts, os hoodies, os coletes e os casacos de trabalho eram peças de destaque. Com o regresso destes modelos, associados à moda e à cultura contemporânea, a Sanjo repensa-os em vez de os replicar, criando peças tão atuais quanto intemporais. Os materiais tradicionais são repaginados e os tecidos escolhidos são rugosos e pesados, o que reforça a sua durabilidade. E seja em t-shirts, camisas, camisolas ou calções, o equilíbrio entre novo e antigo é atingido através dos tons escolhidos, mais leves e modernos: os crus, os pastéis, o lilás.

A nova coleção celebra a estética retro que caracteriza a Sanjo, mas reinterpreta-a com uma atitude moderna e disruptiva. “Mergulho muito no arquivo e inspiro-me no passado da Sanjo”, explica Vítor Costa, diretor criativo da marca. “Há até um padrão que representa a nossa timeline, desde 1933 até à atualidade, presente nos forros dos blusões e na Timeline Shirt.” Somam-se ainda os estampados de uma antiga fotografia de uma equipa de basquetebol sanjoanense, que enaltece a longa ligação da Sanjo ao desporto, bem como às suas origens. Em muitos casos, o logótipo da marca é substituído pela silhueta da icónica sapatilha, que surge bordada ou estampada nas peças, que vão dos 27,90€ aos 129,90€.

A vestir (e calçar) Portugal há 88 anos

A Sanjo nasceu em 1933, em São João da Madeira, inserida na Companhia Industrial de Chapelaria. E se chapéus havia muitos, o mesmo não se podia dizer de sapatilhas 100% portuguesas. As da Sanjo rapidamente se tornaram únicas – tanto pela sua popularidade como pela proteção de que beneficiavam, já que o Estado Novo proibia a importação de bens que se pudessem encontrar em Portugal. Assim, em meados do século XX, a Sanjo calçava boa parte do país. Em branco total ou em branco e preto, os modelos da marca tanto se viam em pés de atletas como nos dos soldados destacados na Guerra Colonial quando não estavam ao serviço. Chegaram, até, a integrar as listas de material escolar.

Mas com a abertura de Portugal ao mundo em 1974, as leis protecionistas deram lugar à pluralidade de marcas. Apesar dos esforços para se reinventar, a Sanjo não conseguiu competir com os gigantes internacionais e, em 1996, fechou as portas. Foi comprada um ano depois e as duas décadas seguintes foram agridoces: se, por um lado, a marca conseguiu reproduzir o molde perdido das icónicas sapatilhas; por outro, acabou por ter de recorrer à indústria chinesa para as fabricar. Foi apenas em 2019 que a Sanjo regressou às origens, ao ser adquirida por um grupo empresarial de Braga comprometido em trazê-la de volta a casa.

A nova fase trouxe muitas mudanças. Com a produção a cargo de uma fábrica em Felgueiras, as sapatilhas voltaram a ser produzidas em Portugal e sofreram algumas atualizações para se tornarem mais amigas do ambiente. Seguiram-se edições especiais feitas em colaboração com entidades e artistas nacionais (La Paz, Alexandra Moura, Burel Mountain Original, Ach Brito, IADE e Sumol) e, agora, é apresentada a aposta no vestuário. Ou seja, aos 88 anos, a Sanjo está mais enérgica do que nunca.

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