Os resultados do levantamento que incluiu 8.463 indivíduos, com idades entre 1 e 79 anos, mostraram a necessidade de vacinar as pessoas que já estiveram infetadas por haver indícios de redução do número de anticorpos três meses depois da infeção.

Também de acordo com os dados da segunda fase do Inquérito Serológico Nacional, as populações das regiões do Algarve, Açores e Madeira, assim como o grupo etário dos 70 aos 79 anos, eram, até 31 de março, aqueles que apresentavam uma menor prevalência de anticorpos contra o SARS-CoV-2 no sangue.

São os grupos com menores seroprevalências, por isso em maior risco de infeção, e aos quais deve ser prestada especial atenção na implementação do Plano de Vacinação contra a Covid-19″, alertava o relatório.

O estudo conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) revelou ainda que as pessoas com menos de 20 anos não parecem ter menor risco de infeção do que os adultos, “tendo em conta a ausência de diferenças na seroprevalência contra SARS-CoV-2 entre crianças, jovens e jovens adultos”.

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Isto quer dizer que mesmo que as crianças e jovens apresentem menos sintomas não quer dizer que não tenham sido infetados — e estas são, de facto, as faixas etárias onde há mais assintomáticos. Mesmo entre adultos, há uma grande prevalência de pessoas com anticorpos contra o vírus que não reportou sintomas nem foi vacinado: cerca de 22% das pessoas em estudo.

Os autores do relatório escreveram ainda que os casos mais ligeiros, com menos sintomas e com respostas imunitárias mais leves, podem ainda assim estar protegidos contra a doença e que, mais importante do que a quantidade, é a qualidade dos anticorpos.

Anticorpos contra SARS-CoV-2 podem manter-se seis meses

Ainda que os autores tenham identificado uma redução da quantidade de anticorpos ao fim de três meses, vale a pena referir que essa é uma reação normal do organismo (há um pico depois da infeção e, depois, redução). Mas não se sabe ainda qual a quantidade ideal de anticorpos para que haja uma resposta eficaz contra a infeção e, mesmo com a redução dos anticorpos, não quer dizer que o sistema imunitário não consiga dar resposta a uma nova infeção.

O que se sabe — e destacou o secretário de Estado da Saúde na apresentação dos resultados — é que as pessoas que tem o esquema vacinal completo (duas doses da vacina) desenvolvem grandes quantidades anticorpos específicos contra o coronavírus SARS-CoV-2.

Ainda assim, o que o inquérito serológico revelou foi que, dos 15,5% da população residente em Portugal que apresenta anticorpos contra este vírus, a maior parte desenvolveu esses anticorpos como resposta a uma infeção natural — apenas 2% devido à vacinação.

Os resultados também se podem justificar porque o sangue para as análises foi recolhido entre 1 de fevereiro e 31 de março de 2021 — após o pico da terceira onda de Covid-19 no país —, numa fase em que a campanha de vacinação ainda estava numa fase muito inicial ou era principalmente feita nos lares (um grupo pouco ou não representado neste levantamento).

15,5% da população em Portugal tem anticorpos contra o novo coronavírus

Foi estimada uma seroprevalência de 15,5% a nível nacional, como aliás já havia sido anunciado com os dados preliminares, mas com diferenças entre regiões. A presença de anticorpos foi menor no Algarve (7,7%), Madeira (6,2%) e Açores (5,8%) e maior na região Norte (16,6%). Os autores do relatório destacam, no entanto, que a incidência (número de novos casos) também foi diferente entre regiões, logo o risco de ser entrar em contacto com o vírus era distinto.

Outra nota refere que o grupo etário dos 70 aos 79 anos que apresentou a seroprevalência mais baixa: 8,9% da população estudada nestas idades tinha anticorpos contra o SARS-CoV-2. Uma seroprevalência baixa não só para aqueles que tinham sido infetados, como entre aqueles que tinham sido vacinados. Sabe-se que, quanto mais velhos, menor a capacidade que o sistema imunitário tem de dar resposta às infeções.

No extremo oposto, o grupo etário dos 40-49 anos apresentou a seroprevalência mais alta (18,8%). De destacar também, que a presença de anticorpos contra o SAR-CoV-2 foi mais frequente nas pessoas empregadas do que nos desempregados, reformados ou empregados sujeitos a lay-off.

Os autores do estudo defendem que a realização deste tipo de estudos são essenciais para “o planeamento de medidas mais efetivas de controlo da pandemia”, porque permitem “identificar grupos de maior risco e estimar do impacto
de diferentes estratégias de intervenção”.