Foi uma sexta-feira, o dia 18 de maio de 2001. Há precisamente 20 anos, nessa sexta-feira, o Boavista aplicou um 3-0 ao Desp. Aves na penúltima jornada do Campeonato e tornou-se campeão nacional. O quarto campeão nacional da história do futebol português, o segundo campeão nacional que não fazia parte dos “três grandes” e o primeiro campeão nacional que não fazia parte dos “três grandes” desde o Belenenses de 1946. Há precisamente 20 anos, o Boavista tornou-se Boavistão.

João Loureiro era o presidente, o herdeiro que veio tornar reais todos os sonhos e ambições do pai Valentim. Jaime Pacheco, que até ao passado mês de março orientava o Zamalek do Egito, era o treinador que fez o praticamente impossível. A equipa, essa, contava com o guarda-redes Ricardo, com Pedro Emanuel, Frechaut, Rui Bento, Petit e Litos. O talismã era Martelinho, o extremo formado nos axadrezados que marcou os golos das vitórias contra o Sporting e o FC Porto, duas das partidas mais importantes da época. Afinal, em 2000/01, o Boavista só perdeu com um dos “três grandes” na última jornada, que já não contava para nada, tendo sido goleado pelo FC Porto.

Para a história, fica a classificação: o Boavista foi campeão nacional com mais um ponto do que o FC Porto e mais 15 do que o Sporting, que era o campeão em título e que conquistaria o Campeonato novamente no ano seguinte. A época ficou também marcada por aquela que ainda é a pior classificação de sempre do Benfica, um sexto lugar, atrás do Sp. Braga e da União de Leiria. Com apenas 22 golos sofridos em 34 jornadas, sendo que somente seis foram consentidos em casa, a equipa de Jaime Pacheco assentava da solidez da defesa para partir para o ataque — e aí, uma das referências era Elpídio Silva, o Pistoleiro que mais tarde representaria o Sporting e o V. Guimarães e que acabou a temporada com 10 golos marcados.

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“Foi um título muito desejado pelos jogadores, pela equipa técnica liderada pelo Jaime Pacheco, pela direção e pelos adeptos. É um título que fica para sempre na minha memória e de todos os boavisteiros. Estávamos no momento certo, na hora certa e no clube certo. Naquele ano tinha de dar certo, tínhamos de ser campeões. Foi um título que mudou muito a minha vida”, disse o brasileiro ao jornal O Jogo, recordando ainda o “mar preto e branco” na Avenida dos Aliados e um jogo especial, em Alverca, onde os jogadores do Boavista celebraram um golo simulando que estavam dentro de um barco.

Soccer - UEFA Champions League - Group B - Liverpool v Boavista

Silva, o avançado brasileiro que depois jogou no Sporting e no V. Guimarães, era uma das referências ofensivas dos axadrezados

“Imitámos um barco. Simbolizava um grupo unido, onde estavam todos dentro e a remar para o mesmo lado. Eu fazia sempre essas comemorações com o Duda (…) Lembro-me do apoio dos adeptos nesse jogo. Tivemos o apoio de milhares de adeptos e a maioria viajou em 50 autocarros. Foi impressionante. Esse apoio foi muito importante, porque íamos defrontar um Alverca que tinha o Mantorras, que estava a atravessar uma fase muito boa. Se ele chutasse de fora do estádio, era golo. Ele era incrível. Estudámos muito o Alverca. Marquei um golo e o Duda marcou o outro. Fizemos um jogo espetacular mas nos últimos minutos sofremos muito”, adiantou Silva, referindo-se a um Alverca de Jesualdo Ferreira — curiosamente, o atual treinador do Boavista — que, para além de Mantorras, também tinha Ricardo Carvalho, Rui Baião e Chiquinho Conde.

Ao Jornal de Notícias, João Loureiro também recordou o dia 18 de maio de 2001, vivido num Bessa menos moderno, pré-Euro 2004, mas palco de “um momento muito importante do futebol nacional”. “O Boavista não foi campeão por acaso, vinha de um percurso de bastante sucesso. Ainda no tempo do meu pai. Em quatro anos, fomos uma vez campeão e duas vezes vice-campeões. É uma data que nunca hei-de esquecer. Não trocava essa conquista por nada. Lembro-me de que, quando o árbitro apitou, me passou tudo pela cabeça, desde o tempo em que ia ver jogos pela mão do meu pai, com sete ou oito anos. Mas, no final desse jogo, talvez fosse a pessoa mais tranquila naquele estádio”, contou.