Nassim Khalayel é palestiniano, tem 50 anos, reside em Portugal há 15, e nunca viveu em paz, revoltando-se por o mundo se mostrar “calado” mesmo sabendo qual é o problema e a solução para o conflito israelo-palestiniano.

Em declarações à agência Lusa, à margem de uma manifestação/comício, em Lisboa, como forma de solidariedade à causa palestiniana, Nassim, que se escusou a adiantar a profissão, afirmou estar “muito triste” com os confrontos que assolam, há precisamente uma semana, as zonas que rodeiam a sua terra natal, Belém, na parte central da Cisjordânia.

Infelizmente não é a primeira vez. Já vivi tantas situações desde que nasci. Já ouvi a palavra paz mil vezes na minha vida, mas nunca vivi nenhum dia de paz. Já perdi tantos amigos, tantos familiares. Infelizmente, sinto-me muito triste, o mundo está calado, não diz nada e sabe qual é o problema e qual a solução para acabar com a ocupação israelita, que é o nosso principal problema”, afirmou.

Nassim acredita, embora pouco, que poderá ver paz na sua terra, embora duvide que tal aconteça em breve. “Espero que sim. Um dia vamos ter paz, mas não tenho tanta esperança na paz com a presença e o apoio ilimitado norte-americano ao Governo israelita.

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Nassim mostrou-se, no entanto, sensibilizado com a iniciativa de “Solidariedade com a Palestina”, que decorreu esta segunda-feira na praça do Martim Moniz, em Lisboa, organizada conjuntamente pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN), Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) e Movimento pelos Direitos do Povo Palestiniano e pela Paz no Médio Oriente (MPPM).

Todavia, apesar de se sentir “orgulhoso” por residir em Portugal, mostrou-se crítico em relação à atuação do Governo português no conflito israelo-palestiniano.

“Como palestiniano sinto muito orgulho em estar aqui em Portugal. Gosto tanto de viver em Portugal. Mas, infelizmente, o Governo português está a usar dois pesos e duas medidas. Sabe quem é o agressor e quem é a vítima”, afirmou à Lusa, criticando o comunicado que o Ministério dos Negócios Estrangeiros português divulgou na semana passada.

“O comunicado não foi bem claro sobre os palestinianos. A única coisa que condenou foi o lançamento dos rockets do [grupo islâmico xiita] Hamas [que governa de facto na Faixa de Gaza] para Israel, mas não falou nada dos cerca de 200 mortos, entre elas dezenas de crianças, das casas, escolas e centros de saúde destruídas pelos bombardeamentos. Esta segunda-feira bombardearam os sistemas de esgotos e de água potável”, afirmou.

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Segundo Nassim, Gaza já estava a viver uma situação “muito complicada há 15 anos” e, agora, “com os bombardeamentos e agressões”, a situação está ainda pior.

Ainda por cima com a atual pandemia [de Covid-19], de que ninguém está a falar, a grande maioria das famílias, mais de 70.000 pessoas, foi afetada. As escolas estão fechadas, não há assistência médica, não sei onde isto vai acabar”, afirmou.

Questionado pela Lusa sobre se as divisões entre os palestinianos de Gaza, liderados pelo Hamas, e de Ramallah, da Fatah, Nassim referiu que nada disso influi.

“Politicamente podemos estar divididos entre Ramallah e a Faixa de Gaza. Mas, como povo, somos unidos. Não há fronteiras. Todas as fronteiras são quebradas quando há luta palestiniana contra a ocupação israelita”, respondeu.

Os combates começaram a 10 de maio, após semanas de tensão entre israelitas e palestinianos em Jerusalém Oriental, que culminaram com confrontos na Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar sagrado do islão junto ao local mais sagrado do judaísmo.

Ao lançamento maciço de rockets por grupos armados em Gaza em direção a Israel opõe-se o bombardeamento sistemático por forças israelitas contra a Faixa de Gaza, tendo provocado a morte a cerca de 200 palestinianos, incluindo 59 menores e 39 mulheres, bem como mais de 1.300 feridos.

Do lado israelita foram contabilizadas 10 mortes, entre elas a de dois menores, numa altura em que continuam os ataques de ambas as partes sem que vislumbre um sinal de tréguas. O conflito israelo-palestiniano remonta à fundação do Estado de Israel, cuja independência foi proclamada em 14 de maio de 1948.

Os 27 países da UE têm frequentemente dificuldades em encontrar uma posição comum sobre o conflito israelo-palestiniano, com países como a Alemanha, a Áustria ou a Eslovénia a apoiarem firmemente o direito de Israel a defender-se, enquanto outros exortam o Estado hebreu a demonstrar contenção.