Superados os picos de Covid-19 no Hospital de São João, no Porto, vive-se um “otimismo cauteloso” com as consultas e cirurgias a recuperarem a “normalidade”, mas as urgências a refletirem antigos problemas ao receberem 500 pessoas por dia.

“Estamos, felizmente, numa situação bastante tranquila” relativamente à Covid-19, assegurou à agência Lusa Nelson Pereira, diretor da Unidade Autónoma de Gestão (UAG) de Urgência e Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de São João.

Neste hospital, que durante a primeira vaga foi a unidade de saúde do país que recebeu mais doentes, estão internados 32 com Covid-19 e destes, 18 estão em unidades de cuidados intensivos. Nos últimos três meses, a situação “tem-se mantido estável” e vive-se agora um “otimismo cauteloso”, com o número de suspeitos com Covid-19 a não ultrapassar diariamente os 40 e com a positividade a rondar os 2 e 3%.

No entanto, o excesso de procura pelo serviço de urgência por parte de doentes não urgentes tem “perturbado”, à semelhança de outros tempos, a atividade de um serviço que se quer “eficiente, rápido e de qualidade”, constatou Nelson Pereira. Ansiosas por “livremente” e “sem receios” acederem aos cuidados de saúde, as pessoas continuam a recorrer “ao sítio que acham que lhes dá melhor resposta, mesmo que não seja exatamente assim”, explicou.

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É mais fácil ir ao serviço de urgência do que ir ao centro de saúde e, portanto, os serviços de urgência sofrem muito esta pressão”, afirmou Nelson Pereira.

A este serviço recorrem diariamente cerca de 500 pessoas, que aguardam pacientemente a sua vez em fila no exterior, nos corredores e nas diversas boxes. “É fundamental que se faça a verdadeira reforma dos serviços de urgência e que possamos de facto receber em ambiente de urgência apenas os doentes que necessitam de cuidados”, defendeu Nelson Pereira.

Neste percurso da Lusa pelo São João, Nelson Pereira destacou ainda que o “grande segredo” foi “manter a atividade não covid-19 em paralelo com a atividade covid-19”, estratégia que considerou ter sido “uma aposta ganha”.

No centro de ambulatório, a atividade está “absolutamente recuperada”, afirmou à Lusa Xavier Barreto, diretor de um serviço que sentiu “menos impacto” da pandemia do que outras valências. Onde habitualmente se realizam cerca de 800 mil consultas anuais, em 2020, a redução foi de “alguns milhares”, o equivalente a menos 4% de consultas, o que não é “muito significativo”.

“A nossa atividade não se reduziu substancialmente relativamente aos anos anteriores, essa redução foi de 4%, e está neste momento recuperada”, afirmou Xavier Barreto, acrescentando que o hospital está a realizar mais 10% de consultas do que no mesmo período de 2019.

Com as consultas a bom ritmo, o hospital sentiu, no entanto, um “efeito colateral”: o cancelamento de consultas nos Centros de Saúde e a consequente redução de pedidos dos Cuidados de Saúde Primários, que fez com que a lista de espera se “reduzisse drasticamente”.

“Em abril de 2019 tínhamos cerca de 70 mil doentes à espera de consulta, em abril de 2020 tínhamos 50 mil doentes e agora temos menos de 30 mil doentes”, afirmou Xavier Barreto. Ainda que esses doentes tenham ficado “retidos” nos Centros de Saúde, “naturalmente não deixam de estar doentes” e, por isso, o hospital faz um “esforço permanente” para aumentar a sua resposta.

O alargamento dos horários das consultas, a par com as restrições aos acompanhantes — que apenas são permitidos em casos excecionais — garante ainda que são acauteladas “condições” para reduzir a propagação do vírus que provoca a Covid-19.

Se no Centro de Ambulatório permanecem restrições para os acompanhantes, no Serviço de Cirurgia “ainda não há qualquer previsão de quando serão possíveis visitas”, revelou Elisabete Barbosa, diretora daquela UAG. A atividade, reduzida em mais de 50% no entre março e abril de 2020, retomou de forma progressiva, funcionando agora em plenitude no internamento, bloco operatório e consultas externas.

Ainda que tenham sido várias as “limitações” devido à covid-19 — desde a alocação de camas, de recursos humanos e da unidade de cuidados pós-anestésicos — o serviço acabou 2020 com uma redução de “apenas 7%” comparativamente a 2019. Com 5.000 cirurgias já realizadas este ano, Elisabete Barbosa afirmou que o serviço está “preparado para dar resposta ao que possa surgir”.

Estamos preparados, não só em termos do serviço de cirurgia geral, mas em termos do UAG de cirurgia para darmos resposta ao que possa surgir”, salientou.

Por aqui, espera-se também que o processo de vacinação reduza o número de doentes Covid-19 e que a normalidade possa ser conquistada.