A enfermeira que cuidou de Boris Johnson quando o primeiro-ministro esteve internado com Covid-19 — e a quem agradeceu publicamente — entregou a sua demissão. A justificação está na “falta de respeito” do governo britânico para com o serviço nacional de saúde (NHS, na sigla inglesa) e os seus profissionais, posição que Jenny McGee manifestou para um documentário do Channel 4, contada pelo The Guardian.

“Nós não estamos a receber o respeito e, agora, o salário que merecemos. Estou farta disto. Por isso, entreguei a minha demissão”, lamentou, referindo-se ao aumento salarial de 1%, proposto pelo governo neste ano, para quem trabalha no NHS.

Em abril de 2020, após sair do hospital onde esteve internado durante uma semana com Covid-19, o primeiro-ministro do Reino Unido destacou dois enfermeiros: Jenny, de Nova Zelândia, e Luís Pitarma, de Portugal, aos quais agradeceu por lhe terem salvado a vida.

Boris Johnson agradece a enfermeiro português que esteve ao seu lado durante 48 horas

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Agora, a enfermeira neozelandesa anuncia que está a dar “um passo atrás no NHS”, mas que espera voltar no futuro. Neste momento, quer iniciar um contrato de enfermagem na região das Caraíbas e depois passar férias no país natal.

“Estava só a fazer o meu trabalho”. A enfermeira neozelandesa que tratou de Boris Johnson

Em julho do ano passado, Johnson recebeu os dois enfermeiros distinguidos no jardim da sua residência oficial, aquando da comemoração dos 72 anos do NHS. Apesar de ter aceitado este convite, Jenny revelou que recusou outro, que envolvia fotos de “aplauso para cuidadores” com o anfitrião, das quais quis ficar de fora.

A enfermeira-chefe manifestou que “muitos enfermeiros sentiram que o governo não liderou de forma muito eficaz” a pandemia, revelando que considerou até uma gestão “muito perturbadora”, e explicou que se sente profundamente desapontada com o tratamento dado pelo executivo aos profissionais de saúde, especialmente com o pagamento dos enfermeiros.

Uma pesquisa realizada no ano passado pelo sindicato dos enfermeiros Royal College e resumida pelo jornal britânico mostrou um aumento acentuado da proporção destes profissionais, que consideravam deixar o emprego, motivados por preocupações com os salários. Quase três quartos dos inquiridos no Reino Unido afirmaram que receber salários mais elevados fariam com que se sentissem mais valorizados.

Como refere a BBC, os comentários foram dados recentemente para o programa, a ser transmitido no dia 24, e entretanto houve a confirmação de que Jenny já abandonou o hospital onde trabalhava. O filme conta como foram os 15 meses da pandemia de Covid-19 no Reino Unido e chama-se “The Year Britain Stopped” (“O Ano em que o Reino Unido Parou”).