A manifestação violenta de cidadãos israelitas contra os palestinianos que ocorreu na quarta-feira passada em Bat Yam, distrito de Tel Aviv, resultou de uma convocatória realizada em vários grupos no WhatsApp, revela o The New York Times. O primeiro grupo chamava-se “Morte aos Árabes”, foi criado a 11 de maio e sugeria uma concentração nas ruas contra os palestinianos. Dezenas de outros grupos com o mesmo mote surgiram mais tarde.

Em todos esses chats foi promovida uma manifestação às 18h de Tel Aviv, menos duas horas em Lisboa, para “agir”. Os membros dos grupos foram motivados a convidar outros amigos para entrarem em pelo menos um desses chats de WhatsApp e a participarem na manifestação. Foi o que aconteceu: na última semana, pelo menos 100 grupos foram criados para expressar mensagens violentas de ódio contra a Palestina e a manifestação aconteceu.

Alguns desses grupos têm tantos membros espalhados por Israel que foram divididos em chats específicos para habitantes de várias cidades. Sabendo que as autoridades estavam atentas às conversas nesses grupos, alguns deles estão a impedir a entrada de novos membros, o que acabou por provocar o surgimento de grupos semelhantes noutras plataformas, como o Telegram.

O que levou ao aumento da violência entre Israel e Palestina? E o que pode acontecer a seguir? 10 perguntas e respostas

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Uma análise do The New York Times e do FakeReporter, um projeto de combate à desinformação sediado em Israel, revelou que a escalada da guerra entre Israel e Palestina, levou a um aumento no número de participantes em grupos desta natureza. Estes chats constam na base de dados para emails e mensagens de grupos extremistas em Israel.

Esta não é a primeira vez que o WhatsApp é utilizado para espalhar mensagens de ódio ou de incitação à violência: aconteceu na Índia em 2018, quando multidões mataram pessoas inocentes acusadas de terem sequestrado crianças; ou com os protestos “Stop The Steal” nos Estados Unidos em janeiro, que culminaram no ataque à Casa Branca.

No entanto, segundo o FakeReporter, as mensagens eram vagas e não se costumavam referir a indivíduos em particular. Neste caso, os grupos estão a servir para executar planos de ataque contra pessoas apontadas pelos membros — todas elas cidadãs palestinianas em Israel. É a “tempestade perfeita de pessoas com poder para usar os próprios nomes e números para pedirem violência abertamente; e terem uma ferramenta como o WhatsApp para se organizarem”, classificou o diretor do projeto, Achiya Schatz.

A polícia israelita confirmou que está a vigiar este tipo de movimentações nas redes sociais e a cruzá-los com as ocorrências verificadas no terreno, após ter sido avisada pelo FakeReporter do que se passava no WhatsApp. No entanto, o porta-voz da polícia, Micky Rosenfeld, garantiu que a maioria dos israelitas não estava a participar nesses atos violentos porque se estava a proteger dos ataques aéreos.