As sociedades médicas e as associações de doentes ligadas à obesidade defenderam esta quinta-feira que esta doença tem de ser tratada como crónica e reincidente e que Portugal deve melhorar a resposta e gestão desta doença.

Em comunicado, a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo (SPEDM) e a Associação dos Obesos e Ex-Obesos de Portugal (ADEXO) juntam-se ao apelo feito a nível europeu e lembram a urgência de Portugal melhorar a forma como é feito o tratamento e a gestão de obesidade, doença que se estima afetar 1,5 milhões de portugueses.

As três entidades, que integram a plataforma “Recalibrar a Balança — por uma resposta holística e equitativa contra a obesidade”, recordam as prioridades definidas no âmbito desta iniciativa, designadamente a necessidade de mobilizar mais recursos para garantir a formação especializada dos profissionais de saúde e a criação de um programa de consultas de obesidade nos cuidados de saúde primários.

Apontam ainda a necessidade de viabilizar a comparticipação do tratamento farmacológico da obesidade, garantindo equidade, e de criar mecanismos de combate ao estigma e discriminação associados a esta doença.

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De acordo com a Sociedade Europeia de Endocrinologia, a obesidade está a tornar-se o problema de saúde mais prevalente a nível mundial, com mais de metade dos europeus com excesso de peso ou obesidade.

Tendo em conta esta realidade, a União Europeia (UE) criou várias iniciativas e campanhas de combate e prevenção da obesidade e, por ocasião do Dia Mundial da Obesidade, assinalado a 4 de março, a Comissão Europeia publicou um documento sobre a prevenção da obesidade e no qual a classifica como doença não transmissível.

“No entanto, não foram tomadas medidas para implementar um tratamento uniforme da obesidade como doença endócrina crónica em toda a Europa. Aliás, na Europa só Portugal, Itália e Holanda classificam a obesidade como doença”, lembram as sociedades médicas portuguesas, a propósito do Dia Nacional de Luta contra a Obesidade, que se assinala no sábado.

Paula Freitas, presidente da SPEO recorda que o projeto “Recalibrar a Balança” foi lançado porque se sentiu a necessidade de “uma mudança urgente” na forma como Portugal aborda a obesidade.

“Sobretudo agora que a pandemia já exerce menos pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde”, afirma a responsável, citada em comunicado, sublinhando que Portugal tem agora “uma população mais pobre e mais doente” e que é “importante relembrar a toda a população que perder peso significa ganhar saúde e que o médico pode ser o melhor aliado na luta contra o excesso de peso”.

O presidente da SPEDM, João Jácome de Castro, considera que “a obesidade é efetivamente uma doença endócrina”: “É preciso lembrar que o tecido adiposo está totalmente integrado na regulação do metabolismo e das funções neuroendócrina e imunitária e, por isso, a gestão e tratamento da obesidade têm de envolver profissionais de saúde”.

Acrescenta ainda que “Portugal precisa de tornar mais eficaz a forma como se lida com o tratamento da obesidade”.

O presidente da ADEXO, Carlos Oliveira, defende que, se por um lado Portugal considera formalmente que a obesidade é uma doença, algo que não acontece em muitos países da Europa, “na prática há ainda muitas mudanças” a concretizar.

É preciso tratar a obesidade antes de tratar as suas consequências, como são a diabetes, a hipertensão ou alguns cancros e temos também de lutar contra o estigma e a discriminação com os quais as pessoas com obesidade vivem diariamente”, considera.

As sociedades médicas e a ADEXO lembram que a Organização Mundial de Saúde estima que haja 650 milhões de adultos a viver com obesidade em todo o mundo. Em Portugal, segundo o Inquérito Nacional de Saúde 2019, os dados apontam para 1,5 milhões de pessoas.

“A obesidade é um fator de risco para várias comorbilidades: além de aumentar o risco de morte por Covid-19, estima-se que aumente o risco até 80% dos casos de diabetes tipo 2, até 35% dos casos de doença cardíaca isquémica, 55% dos casos de hipertensão arterial e 40% dos casos de cancro na Europa”, referem.

Sublinham ainda que a esta lista se junta o impacto económico: “em 2014 estimava-se um custo de 120,6 mil milhões de euros em cuidados de saúde prestados na Europa, associados ao excesso de peso e obesidade, um número que se estima que seja de 197 mil milhões até 2025”.