A ONG portuguesa Oikos está a entregar entre esta quinta-feira e sexta-feira 2,6 toneladas de alimentos a famílias de acolhimento de deslocados da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, palco de violentos ataques, anunciou nesta quinta-feira aquela entidade.

“Estão a ser entregues, entre hoje e amanhã, 2,6 toneladas de alimentos a famílias de acolhimento a deslocados em Cabo Delgado. A ajuda chega através da Oikos — cooperação e desenvolvimento, com apoio financeiro vindo de Portugal, incluindo de pessoas particulares, entidades públicas e privadas, além do governo português, através do Camões, I.P.”, afirma a organização não-governamental, em comunicado. Os cabazes de alimentos contêm bens essenciais como farinha, arroz, feijão, açúcar e óleo alimentar, adianta.

“Ao mesmo tempo que milhares de pessoas fogem da violência, mais de 950 mil pessoas passam fome severa”, de acordo com dados do Programa Alimentar Mundial, sublinha-se na nota.

A província de Cabo Delgado “tem as taxas mais altas de desnutrição crónica em Moçambique, com mais de metade das crianças desnutridas e agora milhares de pessoas estão em situação de insegurança alimentar ainda mais profunda”, acrescenta-se. Assim, as famílias de acolhimento dos deslocados “são também elas muito pobres e estão a receber pessoas deslocadas no seu lar de forma solidária, chegando a atingir mais do dobro do agregado”, destaca a ONG.

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Segundo a nota da Oikos, nas casas das famílias de acolhimento “falta tanto ou mais do que num Centro de Acolhimento Temporário, mas não falta o sentimento de inclusão e conforto que só uma família sabe dar”, sublinha.

Além da ajuda alimentar, a Oikos vai também distribuir “560 itens escolares, que ajudarão as famílias que estão a acolher crianças órfãs” para que estas possam ter materiais como lápis, cadernos, livros, canetas e afias, adianta o comunicado, que recorda que cerca de metade dos deslocados são crianças.

A ação da ONG contempla também a distribuição de bens de primeira necessidade, como de higiene, abrigo e proteção, para 15.750 pessoas, nos próximos três meses.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, com alguns ataques reclamados pelo grupo jihadista Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o governo moçambicano.

A mais recente incursão destes grupos ocorreu em 24 de março em Palma, a quase seis quilómetros do projeto de gás em construção, tendo provocado dezenas de mortos e feridos, sem balanço oficial anunciado. As autoridades moçambicanas anunciaram controlar a vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar o recinto do empreendimento que tinha início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.