“A função do Presidente da República é defender o interesse nacional sem se deixar seduzir pela tentação dos segundos mandatos, que é de uma proatividade excessiva” garantiu em entrevista à Antena 1 Marcelo Rebelo de Sousa. Espicaçado pela jornalista Maria Flor Pedroso, que lhe perguntou se, apesar da teoria, na prática não estaria “quase lá”, o PR respondeu com uma negativa sêxtupla e reforçou que os poderes constitucionais ao dispor do cargo que desempenha são mais do que suficientes. O resto será “bom senso”: “Tem de ter o equilíbrio de não lhe passar pela cabeça experiências partidárias, nem experiências para-partidárias, nem anti-partidárias e por aí em diante. É só manter o equilíbrio e o bom senso nos anos que faltam até ao fim do mandato — e são muitos, são quatro anos”.

Em entrevista ao programa Geometria Variável, da Antena 1, o Presidente da República falou sobre Portugal, Europa e África; defendeu a generalização de uma “visão de alguma governança económica europeia” para os 27 — “Não basta a Europa tecnocrática, é curta a mensagem” —; e apontou o dedo à “substituição de lideranças” e aos “fenómenos de insatisfação e contestação” a que o continente tem assistido nos últimos anos e que, a seu ver, resultam do facto de haver “mecanismos da democracia clássica que em demasiados países estão obsoletos”. “Não é possível criar um poder europeu forte na base de poderes nacionais fracos; não se vai buscar líderes europeus a outro planeta”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

De regresso à realidade nacional, o PR lamentou a inexistência de preparativos feitos com a devida antecipação para a aplicação dos fundos comunitários do Plano de Recuperação e Resiliência e do Portugal 2030  — e criticou o facto de as comissões de coordenação regional e as comunidades intermunicipais, que os deverão executar, ainda não terem recebido qualquer informação.

Pela primeira vez, Marcelo Rebelo de Sousa quebrou ainda o silêncio sobre os rumores de uma possível saída de António Costa para um cargo na Europa — “Parece-me uma especulação sem o mínimo de fundamento”, disse o Presidente, recordando que o Primeiro Ministro “é  o protagonista cimeiro de um projeto que assumiu perante o país, por uma legislatura”.

“É fundamental que haja na área do poder mais diálogo entre os partidos que estão vocacionados para levar até ao fim a legislatura — para além das suas divergências —, e na alternativa é fundamental que a alternativa reforce a capacidade de o ser de forma crescente”, disse ainda o PR, realçando a importância do diálogo entre o Primeiro Ministro e os partidos que lhe viabilizam a legislatura.

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