A França apresenta um dos melhores plantéis de sempre reforçado agora pelo regressado Benzema. A Hungria manteve o nível em relação a 2016. A Alemanha pode não aparentar ser tão forte como outrora mas é sempre a Alemanha no fim de ciclo de Löw. Portugal não terá uma tarefa fácil logo na fase de grupos do Campeonato da Europa, que desta vez pode também apurar os quatro melhores terceiros classificados. Também por isso, uma vitória a abrir com o conjunto magiar ganha outro peso para encarar os duelos seguintes. Mas foi para lutar pelo triunfo em todos os encontros que Fernando Santos elaborou a lista de 26 jogadores para a fase final.

É certo que Pedro Gonçalves entrou nos convocados nunca tendo sido internacional A mas a maior surpresa em termos globais foi a chamada de apenas três centrais, dois já veteranos (Pepe e José Fonte). Na conferência que se seguiu, o selecionador desmistificou uma ideia da moda – Portugal não irá atuar com uma linha recuada de três defesas. Depois, e a propósito da ausência de Pedro Neto por lesão, salientou que falaria apenas dos presentes e não ausentes. Mas, entre os presentes, o que norteou as escolhas? Quatro pistas: a confiança na capacidade de resistência de Pepe, um meio-campo para ganhar jogos, um ataque versátil e… Cristiano Ronaldo.

Ronaldo é um jogador diferente de 2016. Mas continua a ser Ronaldo

A imagem de Ronaldo em lágrimas no relvado e depois no banco do Stade de France, após ter sido substituído por lesão ainda na primeira parte da segunda final de um Europeu que disputava, ficou como marca de um jogo dramático que seria decidido por um pontapé cheio de fé de Éder. Portugal ganhou o seu maior título de sempre sem o capitão em campo mas, antes, o capitão foi fundamental para chegar ao encontro decisivo. Hoje, Ronaldo é um jogador diferente. Com a mesma vontade (até por continuar com o recorde de melhor marcador das seleções de sempre na mira), com a mesma ambição, a chegar ao final da temporada com mais de 30 golos e o título de goleador da Serie A mas a precisar mais de uma equipa que jogue com ele e para ele – e foi por não perceber ao certo como que Andrea Pirlo se foi perdendo em labirintos táticos ao longo da época. Encontrar uma ideia e um modelo que coloque o avançado mais em jogo sem necessitar de sair das zonas de finalização é um desafio.

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O sistema da moda não é hipótese – e a fé depositada em Pepe

Fernando Santos foi muito claro na conferência de imprensa de anúncio dos 26 convocados para o Europeu ao falar das opções defensivas e do facto de levar apenas três centrais, uma surpresa até por três vagas extra nas escolhas para a fase final de 2021: sim, começa a tornar-se moda jogar com linhas de três defesas; não, essa não será uma hipótese para Portugal. O leque de escolhas para as laterais tem as características para isso, as opções para o eixo recuado não abundam tanto como noutras gerações. Também por isso, o selecionador jogou pelo certo, sabendo que tem três elementos mais posicionais no meio-campo que foram experimentados nesse lugar ou que se podem adaptar com maior facilidade (Danilo, William Carvalho e Palhinha). Em paralelo, existe um voto de confiança em Pepe, jogador de 38 anos com o maior currículo além de Ronaldo, que voltou a ter uma grande época mas que leva 40 jogos nas pernas e que terá de jogar encontros intensos de quatro em quatro dias.

É na luta do meio-campo que se vão ganhar os jogos (e opções não faltam)

É certo que existiram agora três vagas extra na convocatória mas Portugal leva pela primeira vez oito médios a uma fase final do Europeu. Mais do que isso, leva oito médios com características diferentes que, por ter depois para o ataque elementos como Bernardo Silva ou Pedro Gonçalves, habituados a jogar mais recuados em triângulo ou losango como aconteceu esta temporada, fazem com que prescinda de outras possíveis opções que acabaram bem a época como Pizzi. As escolhas mostram que Fernando Santos acredita que os jogos serão em grande parte ganhos no meio-campo, onde tem três jogadores de características mais defensivas mas no caso de William Carvalho capaz de atuar como ‘8’, elementos que dão maior fiabilidade na gestão e circulação de bola, jogadores com mais chegada a zonas de finalização e metade com capacidade para fazer a diferença também na meia distância. Até em termos físicos, o selecionador pode fazer uma gestão melhor ao longo da prova.

Mais avançados do que o normal, muitos caminhos para chegar ao golo

Pedro Gonçalves foi a grande surpresa de Fernando Santos, Nani não voltou mesmo às opções e Paulinho ficou de fora, deixando a André Silva a vaga de único avançado mais de área entre todas as escolhas além de Ronaldo. Dessa forma, Portugal passa a ter mais jogadores com características distintas para poder adaptar o seu ataque e sobretudo a melhor forma de preparar cada encontro em função da organização defensiva contrária entre os movimentos diagonais de Diogo Jota, os desequilíbrios mantendo o equilíbrio da equipa de Bernardo Silva, o jogo diferenciador nas transições de Rafa, a procura dos espaços entre linhas de Pedro Gonçalves, a presença de Gonçalo Guedes em zonas de finalização e o virtuosismo de João Félix no 1×1, mais pelo meio ou descaído numa das alas. Jogando em 4x3x3, Bernardo Silva, Diogo Jota e Ronaldo partem em vantagem mas as alternativas à disposição do selecionador garantem um maior leque de recursos para mexer com a partida.