A imponência da arquitetura é equilibrada pelo apelo das portas abertas. Oficialmente inaugurado na última semana, o LX Lapa é mais do que um reaproveitamento de um projeto hoteleiro interrompido pela burocracia e pela pandemia (já lá vamos) — é o concretizar de um plano há muito magicado por Filipa e Sérgio Cândido Pinheiro. “Já tínhamos este hábito de procurar e comprar este tipo de peças. Podemos dizer que é um hobbie. Ter um espaço assim estava nos nossos planos, mas não agora nem neste edifício”, admite a engenheira de formação, durante uma conversa com o Observador.

Estamos em pleno bairro da Lapa, num palacete dos anos 20 onde em tempos funcionou a Brotéria, histórica revista jesuíta que, em janeiro de 2020, se mudou para o Bairro Alto e se tornou um espaço cultural aberto à cidade. Nos dois pisos, os ambientes multiplicam-se pelas várias divisões — um interior compartimentado, recheado de mobiliário que atravessa praticamente todo o século XX. É o resultado daquilo a que Sérgio chama uma buying trip. Em fevereiro, o gestor fez-se à estrada, correu os Países Baixos, a Bélgica, a Alemanha e o Norte de França.

Filipa e Sérgio Cândido Pinheiro, os donos do LX Lapa © Francisco Nogueira

A carga que trouxe no regresso está à vista: várias peças de design escandinavo, incluindo as cadeiras Cognac Safari desenhadas por Karin Mobring para a Ikea, em 1974, tesouros centro-europeus, caso das Cadeiras Cesca de Marcel Breuer, lançadas pela Knoll em 1968, e achados surpreendentes como a Spider Table, peça assinada por Jindrich Halabala, um dos mais proeminentes designers da antiga Checoslováquia.

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“Também quisemos prolongar ao máximo a vida útil destas peças. Algumas chegaram com pequenos danos provocados pela passagem do tempo, por isso preparámos um edifício só para poder garantir o tratamento e a reparações do mobiliário”, explica Sérgio. O anfitrião refere-se à construção contígua, um prédio dos anos 50 erguido para albergar as dezenas de milhares de livros da biblioteca jesuíta e com passagem para o palacete.

Soalheira, a fachada mais antiga não alberga só móveis. Existe arte em casa divisão, fruto da colaboração com a Galeria Filomena Soares. A curadoria abarca desde artistas emergentes, caso de Inês Mendes Leal e Francisco Trêpa, cujas peças rondam as tímidas centenas de euros, a nomes consagrados como Pedro Barateiro e Helena Almeida — pendurada no topo da escadaria, “Looking Back”, da artista portuguesa, é a primeira visão quando se entra no LX Lapa.

Cadeiras Cognac Safari, desenhadas para a Ikea em 1974 © Francisco Nogueira

As plantas são mais do que acessórios que compõem o cenário. Também elas estão à venda, estratégia alinhada com a atual tendência que predomina nos ambientes citadinos. Letreiros, peles, tapeçarias, taxidermia, vidros e cerâmica portuguesa são os acrescentos de última hora numa loja que também já tem uma versão online e onde os proprietários fazem questão de reproduzir a história por trás de cada peça.

Mas os planos de Filipa e Sérgio para este palacete lisboeta são outros. Em 2014, entraram no negócio do alojamento — ao primeiro apartamento seguiram-se outros, mais tarde um pequeno hotel de 22 quartos. Para estes dois edifícios, que juntos totalizam 2.300 metros quadrados, estava projetado um hotel de charme com 25 quartos. O licenciamento não chegou e o casal acionou o plano b: uma loja que espelha o gosto pessoal dos proprietários.

Uma das salas do LX Lapa © Francisco Nogueira

Esta pode não ser a morada definitiva do LX Lapa, mas o projeto não volta atrás, garantem. “Quando abrir, o objetivo é que o hotel beba deste mesmo espírito, da relação com o design e desta abertura ao bairro”, resume Sérgio. E a abertura de que fala não fica pela loja — no segundo edifício, sob as oficinas de reparação, existe uma galeria, por estes dias entregue nas mãos das curadoras Carolina Pelletier Fontes e Delfina Sena. “Reflection Upon Space: Parts I & II” reúne um punhado de jovens artistas que exploram suportes tão diferentes como a pintura, a escultura, a fotografia e a instalação. Um ciclo de duas exposições que pode ser visitado até dia 8 de julho.

E porque ninguém sabe ao certo durante quanto tempo este será o poiso deste três em um, o casal já planeia introduzir uma quarta vertente no espaço. Nas traseiras do edifício, o pátio convida a aproveitar os dias quentes que se avizinham — uma cafetaria pode muito bem ser o próxima novidade do palacete.

Nome: LX Lapa
Morada: Rua Maestro António Taborda, 14, Lisboa
Telefone: 21 192 9113
Horário: de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 18h