É um dos fins de semana mais aguardados do ano no que toca ao calendário da Fórmula 1. O Grande Prémio do Mónaco, que tem como pano de fundo o luxo e a elegância de Monte Carlo, é talvez a corrida mais prestigiante, mais desafiante e mais eloquente da história da modalidade. O fim de semana do Grande Prémio do Mónaco é sempre um dos mais emocionantes do Campeonato do Mundo — principalmente para alguém que, como Charles Leclerc, é monegasco.

O piloto da Ferrari é um dos pouco mais de 38 mil monegascos, ou seja, uma das pouco mais de 38 mil pessoas que nasceram num dos países mais pequenos do mundo. Este fim de semana, Charles Leclerc estava em casa: e aproveitou essa vantagem da melhor maneira. A Ferrari dominou as sessões de treinos, com Leclerc a superiorizar-se ao colega Carlos Sainz, e a Mercedes acabou por nunca conseguir acompanhar o ritmo da scuderia italiana.

Na qualificação, o monegasco registou o melhor tempo que lhe garantiu a pole-position, a oitava da carreira e a primeira da Ferrari desde 2019, mas acabou a sessão com um acidente grave contra os rails — algo que levou ao fim precoce do apuramento, a poucos segundos da bandeira de xadrez, e que prolongou a indecisão sobre quem é que iria mesmo sair do primeiro lugar da grelha. Isto porque o embate forte do carro chegou a levantar a hipótese de a Ferrari precisar de mudar a caixa de velocidades antes da corrida, algo que, de acordo com os regulamentos, obrigaria a uma penalização que deixava Charles Leclerc sem a pole.

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Esse cenário, porém, não se concretizou. O SF21 manteve a caixa de velocidades depois da derradeira avaliação e o monegasco manteve a pole-position durante mais umas horas — até que o pior cenário se tornou uma realidade. A cerca de meia-hora do arranque do Grande Prémio, a Ferrari confirmou que Leclerc não iria participar na etapa devido a um problema no eixo de transmissão que não poderia ser solucionado a tempo. Depois da pole-position, depois de praticamente toda a gente o rotular como o favorito para ganhar a corrida, depois de a Ferrari ter conseguido o que há dois anos não conseguia, o azar bateu à porta do monegasco: que acabou confortado pelo príncipe Alberto do Mónaco.

Assim, e com o primeiro lugar do grid vazio, Max Verstappen saiu de uma pseudo pole-position, seguido de Valtteri Bottas e Carlos Sainz. Lewis Hamilton, num fim de semana muito difícil, partia de sexto, com Daniel Ricciardo a ser a outra desilusão ao sair do 11.º lugar da grelha. No arranque e na apertada primeira curva, Verstappen conseguiu segurar a liderança e manter alguma distância para Bottas, enquanto que Sainz não chegava ao ritmo dos dois da frente mas também não era pressionado por Lando Norris.

Com 20 voltas volvidas, Sainz começou a encurtar distâncias para Bottas e Verstappen garantiu à equipa, via rádio, que estava confortável com o conjunto de pneus com que tinha iniciado a corrida — o que deixava perceber que não seria o piloto holandês, com a liderança bem respaldada, a iniciar qualquer tipo de mudança de ritmo. O Grande Prémio navegou por águas tranquilas até às 30 voltas, quando uma paragem de Valtteri Bottas acabou por agitar o topo da classificação. Quando o finlandês parou para mudar de pneus pela primeira vez, os mecânicos não conseguiram retirar uma das rodas dianteiras do Mercedes e Bottas acabou por ter de abandonar, oferecendo o segundo lugar a Sainz e o terceiro a Norris.

Mais atrás, Sebastian Vettel ia realizando uma corrida assinalável, extraindo o melhor do Aston Martin e colocando-se na quinta posição, acima de Hamilton e de Stroll. O campeão mundial em título ia confirmando a ideia de que não iria sair do Mónaco com um bom resultado, através de setores bem abaixo da média e uma dificuldade surpreendente em competir com o AlphaTauri de Pierre Gasly. À beira das últimas 20 voltas, Carlos Sainz comunicou à equipa que estava pronto para pressionar Verstappen e encurtar a desvantagem — recebeu luz verde e aí, ainda com muito tempo para correr, tinha menos de três segundos de distância para anular.

As 20 voltas, porém, não foram suficientes. Max Verstappen venceu o Grande Prémio do Mónaco, um sítio onde nunca tinha vencido, onde nunca tinha ficado no pódio e onde nunca tinha sequer liderado uma única volta, saltando para o primeiro lugar do Campeonato do Mundo pela primeira vez na carreira. Carlos Sainz foi segundo, confirmando o fim de semana positivo da Ferrari no que toca a ritmo e competitividade, e Lando Norris encerrou o pódio. Vettel confirmou um incrível quinto lugar, seguido de Gasly e Hamilton, que fez uma corrida quase anónima em que perdeu a liderança da classificação geral. No dia em que o azar desenhou o pesadelo de Charles Leclerc, Max Verstappen aproveitou para concretizar um sonho e deu à Red Bull o topo da classificação de construtores pela primeira vez desde 2013.