O Sporting de Braga foi recebido esta segunda-feira à tarde na câmara municipal da cidade, devido à conquista da Taça de Portugal em futebol sénior masculino — que aconteceu este domingo à noite, em partida que opôs os bracarenses ao Benfica.

O presidente da câmara, Ricardo Rio, foi o primeiro a discursar, assumindo o sonho de  um título futuro de campeão nacional. Emocionado, Carlos Carvalhal diz que cumpriu um “sonho de menino” e que se terminasse carreira hoje estaria “realizadíssimo”. Já António Salvador elogiou o comportamento dos adeptos do clube, visando (em comparação) os festejos do Sporting, e elogiou o “grande mister” que distingue de treinadores que foram para o Braga “só para se mostrar, para conseguir ganhar algo e para se projetar para outros patamares”.

Ricardo Rio: “É a afirmação de um verdadeiro grande. Só falta o campeonato nacional”

No primeiro discurso da tarde, o presidente da Câmara Municipal de Braga (CMB), Ricardo Rio, defendeu que teria sido possível a final ter sido disputada com adeptos no estádio. O autarca quis “deixar uma mensagem de agradecimento pela compreensão e colaboração” daqueles que “hoje não puderam estar presentes neste momento de celebração”. A autarquia tinha pedido aos adeptos para não se deslocarem às imediações da CMB.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Acho que os adeptos bracarenses foram verdadeiros vencedores. O desporto só é festa com os adeptos. Teria sido possível que ontem, no estádio, tivessem sido encontrados mecanismos para que os adeptos estivessem presentes a dar outro colorido a uma das maiores festas do desporto em Portugal”, referiu Ricardo Rio.

O presidente da câmara municipal da cidade defendeu ainda que “os bracarenses contiveram-se nos festejos, perceberam que as circunstâncias que hoje vivemos exigem sentido de responsabilidade e acorreram aos reptos deixados pelo município de Braga, pelo Sporting Clube de Braga e pelas forças de segurança, para que todos em conjunto pudéssemos ter um futuro mais risonho. Para eles a minha primeira palavra: obrigado”.

De seguida, Ricardo Rio frisou que esta “não é uma conquista qualquer, é uma das provas mais emblemáticas do futebol do nosso país”. E mais: “É uma conquista que já não é apenas um acidente de percurso. Quando o Sporting Clube de Portugal começou a trazer nome para os palmarés das principais provas nacionais e internacionais, sobretudo na última década, admito que se pensasse que era um daqueles casos avulsos que acontecem: uma equipa ter melhor desempenho quando as outras não estão tão bem. Não é isso, é um crescimento muito sustentado, a afirmação de uma grande equipa e de um verdadeiro grande no futebol nacional“.

Lembrando que se vive o ano do centenário do clube e que “não há melhor prenda para os adeptos do Sporting Clube de Portugal do que juntar ao palmarés riquíssimo mais um troféu, mais uma taça para o museu do clube”, Ricardo Rio deixou ainda “uma palavra de felicitações e de agradecimento” a Carlos Carvalhal, “um técnico de Braga, que vive e sente o clube como ninguém”.

E finalmente: esta equipa, este clube, esta estrutura desportiva tem um líder máximo que é o Presidente do clube, recentemente eleito por um novo mandato. Queria prestar-lhe uma justa homenagem pelo trabalho que tem desenvolvido, por ter sabido alavancar o clube para outros patamares de ambição. Só falta fazer o que ainda não foi feito: logo em agosto conquistar a Supertaça e numa próxima época, tão cedo quanto possível, conquistar o campeonato nacional“, rematou Ricardo Rio.

Carlos Carvalhal quis, Abel Ruiz sonhou, a obra do Sp. Braga nasceu (a crónica da final da Taça de Portugal)

Carvalhal emocionado: “É um sonho. Se tivesse de terminar carreira, seria realizadíssimo”

Visivelmente emocionado, o treinador da equipa, Carlos Carvalhal, começou por dizer: “Gostaria de dar aqui duas ou três palavras. A primeira palavra que me ocorre é obrigado e gratidão a todos vocês. Eu sou de Braga, esta é a minha cidade, as pessoas que aqui estão são todas rostos familiares para mim. Tenho um amigo de infância aqui comigo que sabe, que me acompanhou no período em que jogava no campo da escola do bairro da Misericórdia”.

Eu nunca… se calhar talvez em sonhos pensava estar a viver um dia como este. Gostei sempre do clube. Foi pelo colo dos meus pais, desde bebé, que comecei a acompanhar os jogos do Sporting Clube de Braga. Lembro-me de muito pequenino afeiçoar-me ao jogo, celebrar as vitórias do SCB, ficar a conhecer os jogadores todos e ter um dia a vontade e o sonho de jogar no SCB”, prosseguiu Carlos Carvalhal.

Houve um dia em que isso foi possível. Fui aos treinos de captação. Na altura, talvez não tanto pela minha capacidade, fiquei. Estreei-me com 11 anos com a camisola do SC Braga. Sou um produto do trabalho, não sou um produto do talento. Consegui ser internacional aos 14 anos pelo SCB, percorri os escalões todos até aos sub-21, fui capitão de equipas do SCB, joguei nos séniores do SCB, tive oportunidade de ser treinador do SCB”, notou.

Lembrando a anterior passagem pelo comando técnico do clube, Carlos Carvalhal disse que à época os seus filhos complicaram a sua continuidade no clube: “Eles não aguentaram a pressão de estar na escola constantemente, com miúdos a serem cruéis uns com os outros na altura das derrotas. Tive de abdicar do meu sonho. Ironia do destino…”.

@ Ivan Del Val/Global Imagens

Depois, dirigiu-se aos jogadores: “Foram vocês que me ajudaram a cumprir este sonho. Já o disse, há muitos treinadores que sonham em ganhar a Champions. Eu sonhava há muito tempo ganhar algo importante pelo Sporting Clube de Braga. Imaginem a felicidade que tenho dentro de mim, sou homem completamente realizado na minha profissão. Devo a vocês todos e devo-o aos meus jogadores: tivemos uma ideia, vocês perseguiram a ideia, o todo foi maior do que a soma das partes, tiveram comportamento excecional ao longo da época, uma dedicação tremenda”.

Isto é muito importante. O Sporting Clube de Braga está em crescimento mas não tem 40 taças, está é a terceira [Taça de Portugal]. Estamos a trilhar o caminho para que de forma sustentada o SCB consiga atingir um patamar ainda mais elevado. É necessário dar passos para se conseguir chegar mais lá acima mas o que o SCB tem feito nos últimos anos, obra do presidente António Salvador, foi excecional”, notou Carlos Carvalhal.

A “diferença” para os três crónicos grandes do futebol português, Sporting, Benfica e FC Porto, está “mais diminuída”, nota o treinador. “E um dia o SCB vai chegar lá acima, mas tem de chegar de forma sustentada para não chegar lá uma vez e depois tornar a ir lá outra vez passados 15 anos. Quando lá chegar é para ficar lá“, acrescentou o técnico. Carvalhal rematou assim: “Muito obrigado por me fazerem cumprir um sonho de menino. Mais uma vez digo: se tivesse de terminar carreira aqui seria um treinador realizadíssimo”.

Salvador: bicada ao Sporting (pelos “festejos”) e a treinadores “que só vieram para se projetar”

António Salvador, presidente do Braga, também falou e começou por cumprimentar todos os que trabalham no clube e “os heróis de uma conquista de uma Taça de Portugal num ano de centenário, um ano difícil para todos nós, pandémico, onde não pudemos comemorar com os nossos sócios e adeptos”.

Os sócios e adeptos felizmente tiveram um comportamento exemplar. Souberam da responsabilidade em que o país vive, a responsabilidade que têm de ter com os outros e cumpriram todas as regras da DGS e autoridades, para termos uma comemoração sem haver problemas e sem ver aquilo que vimos há pouco tempo numa outra zona do nosso país”, apontou.

De seguida, António Salvador dirige-se a Carlos Carvalhal: “Grande mister, o meu muito obrigado por há um ano, quando nos reunimos para que assumisse os destinos deste clube, ter aceite este desafio”. Ainda sobre Carvalhal,  Foi um desafio em ano de centenário e era o que pretendia: ter um treinador da casa, com paixão pelo clube, que viesse para conseguir ganhar e trabalhar de forma apaixonada e que não viesse cá só para se mostrar, para conseguir ganhar algo e para se projetar para outros patamares, muitos daqueles que cá têm passado assim o têm feito independentemente de quando cá estão terem dado tudo pelo clube. Você veio, veio para ficar e veio para trabalhar de uma forma apaixonada por este grande clube”.

Carlos Carvalhal, recorde-se, assinou contrato com o Sporting de Braga por duas temporadas. Há uns meses, em entrevista ao semanário Expresso, o treinador anunciou ter o desejo de cumprir os dois anos de contrato no clube e depois prosseguir carreira no campeonato inglês, rumando à Premier League.

Aos jogadores, o presidente do clube disse: “Eles foram os heróis. Foram eles que ganharam este título. O mérito é todo deles, deles, da equipa técnica e de todo o staff que diariamente acompanha este grupo de trabalho, desde a parte diretiva do departamento de futebol ao departamento médico”.

“Aquilo que ontem aconteceu foi uma coisa que nós, antes do jogo e na véspera, falámos muito. Estivemos em estágio, tínhamos a convicção que iríamos ganhar. Uma final é 50% para cada lado mas depois há a pontinha de sorte para conseguirmos vencer. Além disso foi a vontade, o querer, a ambição de querer ganhar algo num ano muito especial, de centenário”, prosseguiu António Salvador.

@ HUGO DELGADO/LUSA

O líder do clube bracarense acrescentou: “Considero que fizemos uma época extraordinária. Em determinados momentos nesta parte final as coisas não nos correram tão bem no campeonato e vocês injustamente foram criticados pela comunicação social e até cá dentro, na nossa cidade. Tivemos alguns percalços, com jogadores lesionados — bastantes que saltaram fora da equipa — e todos fizeram todos falta. Somos todos uma equipa, os que jogam e os que ficam de fora, e só assim é que conseguimos formar um grande grupo como o que somos”.

Defendendo que o Sporting de Braga venceu na final “um grande clube, uma grande equipa”, António Salvador recuou a uma crença antiga: “Acreditava que até ao centenário podíamos ser campeões. Nunca prometi nada mas acredito sempre que é possível. Não foi o título de campeão nacional mas foi a taça do povo, dos adeptos, a taça que é rainha do futebol em Portugal”.