Começa já esta terça-feira a terceira convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL), uma espécie de encontro de figuras políticas de centro-esquerda, centro-direita (com maior representação) e extrema-direita desalinhadas do Governo — e das correntes maioritárias da “geringonça” — para um debate ideológico sobre políticas públicas e o futuro do país.

O encontro começa, porém, já com uma baixa: uma das oradoras de um dos painéis da convenção que junta sobretudo as diferentes tendências da direita (e as direitas) e do “espaço não socialista” decidiu anunciar esta segunda-feira que não irá participar por discordar dos moldes do convite a André Ventura.

Trata-se de Maria Castello Branco, militante que integra a Comissão Executiva do partido Iniciativa Liberal, que iria participar no painel de debate “Portugal e os Caminhos do futuro” e que revelou ao Jornal i que decidiu cancelar a sua presença.

No encontro estarão os líderes políticos de PSD (Rui Rio), CDS-PP (Francisco Rodrigues dos Santos), Iniciativa Liberal (João Cotrim de Figueiredo) e Chega (André Ventura) e os líderes da Juventude Social Democrata e Juventude Popular, além de figuras da política como Paulo Portas (ex-ministro e ex-líder do CDS), Luís Amado (ex-ministro do PS), Sérgio Sousa Pinto (deputado socialista), Miguel Morgado e Miguel Pinto Luz (PSD).

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No comunicado difundido pelo jornal i, a militante e integrante da comissão executiva da IL refere: “Não sabendo se André Ventura iria integrar a Convenção, bastou-me a memória da passada edição, que integrou Ventura num painel, para perceber que o MEL, ‘de centro’, não tinha problemas em abrir as suas portas a um partido cujos valores se opõem aos valores democráticos do centro-direita“.

Vincando que defendeu sempre que “a forma mais eficaz de combater partidos ou movimentos radicais é a exposição das suas ideias ao escrutínio democrático”, através do debate de ideias, diz ter-se apercebido que não era isso que aconteceria: “Crendo que Ventura seria integrado uma vez mais num painel de discussão, continuei convencida de que poderia usar o microfone para combater uma direita obsoleta, cinzenta, sectária, pouco importada com temas de cidadania, pouco interessada em falar da necessidade de políticas inclusivas. Usaria a minha posição de keynote speaker para exaltar os partidos de direita europeus, como a CDU, que falam hoje de combate ao racismo e ao sexismo. Falaria do futuro, de feminismo e do combate ao sectarismo”.

Acusando o Movimento Europa e Liberdade (MEL) de ter abdicado de ser “uma tertúlia à direita” para se “transformar na antecâmara de uma putativa coligação”, a política liberal refere que os quatro partidos da ‘direita’ (assim referida, com aspas) estarão na convenção a “discursar sem oposição” e sem contraditório. “Isto não é uma discussão dos valores, é o início de uma tentativa de federação das direitas, que normaliza um discurso que fere o respeito pela liberdade e pela pessoa humana que foram caracterizando os partidos do centro-direita no pós-25 de Abril”, defende.

Apontando também que tentou “sem sucesso, falar com vários painelistas, incitando a uma tomada de posição contra a elevação de um extremista a um palco sem oposição”, conclui referindo que se apercebeu que não poderia “participar numa convenção que parece querer federar as direitas, sem primeiro colocar a nu as posições dos seus vários constituintes e sem lançar os seus líderes em franco debate”. Portanto, diz ter de “recusar participar numa Convenção que, mais do que normalizar um discurso extremista e populista, lhe dá palco e aplausos sem contraditório“.

O líder do Chega, André Ventura, já reagiu à notícia do jornal i e à decisão da oradora num dos painéis da convenção, escrevendo: “Isto só pode ser para rir. As pessoas gostam mesmo dos seus 2 segundos de fama!”