O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, anunciou esta terça-feira, em visita a Jerusalém Ocidental, que os Estados Unidos vão ajudar na reconstrução de Gaza, garantindo que tudo fará para que o Hamas não beneficie do apoio humanitário.

Blinken iniciou esta terça-feira uma visita diplomática a Israel, onde se encontrou com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e mais tarde irá encontrar-se com Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestiniana. A visita surge ao quinto dia de cessar-fogo que pôs fim a um conflito entre Israel e o Hamas, causando a morte de mais de 250 pessoas — 242 palestinianos, incluindo 66 crianças e 38 mulheres, e 12 israelitas, incluindo duas crianças.

“Sabemos que, para evitar o regresso da violência, temos de usar o espaço criado para abordar um conjunto maior de questões e desafios subjacentes. E isso começa por enfrentar a grave situação humanitária em Gaza, começando a reconstruir”, afirmou Blinken, em conferência de imprensa, citado pela AP.

“Os Estados Unidos vão trabalhar para angariar apoio internacional em torno desse esforço, ao mesmo tempo que faremos a nossa própria contribuição significativa”, afirmou Blinken, acrescentando que Washington irá trabalhar com os seus parceiros de forma a “garantir que o Hamas não beneficia da assistência à reconstrução”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Israel/Palestina. A solução de dois Estados para alcançar a paz ainda é possível?

Além do número de vítimas mortais, as bombas israelitas lançadas ao longo de 11 dias contra Gaza causaram uma enorme destruição em infraestruturas no enclave palestiniano, que desde 2006 é governado pelo movimento islamista Hamas, considerado uma organização terrorista pela União Europeia e pelos Estados Unidos.

Por esse motivo, durante a sua visita  de três dias ao Médio Oriente — depois de Israel e à Palestina, Antony Blinken ruma ao Egito e à Jordânia —, o secretário de Estado norte-americano não se reunirá com nenhum representante do movimento islamista, que não reconhece o direito à existência de Israel. Vai, contudo, encontrar-se com o presidente da Autoridade Palestiniana e líder da Fatah, Mahmoud Abbas, que governa a Cisjordânia.

Crianças como ferramenta de manipulação, números errados e desinformação. Como distinguir factos e propaganda na guerra em Gaza

“Acreditamos que israelitas e palestinianos merecem igualmente o direito a viverem em paz e segurança,bem como desfrutar de medidas iguais de liberdade, de oportunidade, de democracia e de ser tratado com dignidade”, reiterou Blinken.

Quanto ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse aos jornalistas que não haverá paz enquanto os palestinianos não reconhecerem Israel como um “Estado judaico”, uma designação rejeitada pelos palestinianos, por considerarem que tal põe em causa os direitos da minoria árabe israelita. Além disso, Netanyahu prometeu uma “resposta poderosa” caso o Hamas volte a lançar rockets contra Israel.

Os Estados Unidos, ao lado do Egito, desempenharam um papel de intermediários no cessar-fogo entre Israel e o Hamas, e a visita diplomática de Antony Blinken é vista como uma tentativa de cimentar a trégua entre os dois lados. Contudo, as expectativas de que possa haver desenvolvimento no processo de paz congelado há vários anos são poucas, não só pela distância entre a Autoridade Palestiniana e o governo israelita, mas também devido à instabilidade política interna, tanto em Ramallah como em Tel Aviv.

10 dias de bombardeamentos em Gaza. As imagens do conflito mais violento desde 2014

Israel está envolto numa crise política sem fim à vista, numa altura em que Benjamin Netanyahu está a ser julgado por corrupção e tenta a todo o custo manter-se no poder, apesar de não ter conseguido formar governo. A oposição, contudo, também não está a conseguir formar uma maioria estável, e o cenário mais provável é que os israelitas tenham de ir pela quinta vez às urnas em pouco mais de dois anos.

O lado palestiniano, por seu turno, vive também um grande impasse, num momento de grande descredibilização da Autoridade Palestiniana, que tem cada vez menos apoio entre os palestinianos, e de crescimento da influência do Hamas, inclusive na Cisjordânia. O sentimento de frustração aumentou depois de Mahmoud Abbas adiar aquelas que seriam as primeiras eleições legislativas em 15 anos, que se deveriam realizar neste mês de maio.