Criadores e agentes culturais de todas as áreas têm a partir desta semana uma nova perspetiva na candidatura a apoios da União Europeia e no acesso ao financiamento de empresas. É esse um dos objetivos da recém-criada reCenter Culture, descrita como uma “agência para o investimento no setor cultural nacional”, cuja apresentação pública acontece nesta quinta-feira em Lisboa — a partir das 18h00 no Jardim do Grémio Literário.

A reCenter Culture deve a sua criação, “sem dúvida nenhuma”, aos efeitos da pandemia, segundo Guta Moura Guedes, diretora da ExperimentaDesign. A mesma responsável reconhece os apoios criados nos últimos 15 meses pelo Governo, pelas autarquias e por instituições privadas para estancar a inatividade dos agentes culturais e as situações de carência ou pobreza que daí advieram. Mas é preciso fazer mais, diz. “As fragilidades da sociedade ficaram a nu, sobretudo na cultura. Não é uma situação portuguesa, é internacional, mas se não tivermos uma ação imediata e se não formos mais longe o setor cultural poderá colapsar e é isso que importa evitar”, afirma.

A agência é lançada pela ExperimentaDesign, associação cultural sem fins lucrativos criada há 23 anos em Lisboa e conhecida pela bienal cuja última edição foi em 2017. A ela se juntou a consultora DFK. Como parceiros surgem a consultora KPMG e a COTEC Portugal – Associação Empresarial para a Inovação, além de empresas, autarquias e instituições de ensino. Foi “especificamente criada para apoiar o tecido cultural português, ajudando-o a captar investimento financeiro nacional, europeu e internacional e conferindo-lhe novas competências na área da gestão, economia e comunicação”, diz um texto de divulgação enviada à imprensa.

“Bazuca” europeia e outras fontes de financiamento

Por não ter sede física, a reCenter Culture pode ser vista como uma rede de serviços que opera a partir de plataformas digitais. Os candidatos, segundo Guta Moura Guedes, tanto podem ser artistas em nome individual ou associações e empresas que se dedicam à criação propriamente dita, à difusão ou a projetos educativos de vertente cultural.

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A partir desta quinta-feira à noite vai estar ativo o endereço eletrónico www.recenterculture.com. “Teremos e-mails específicos que as pessoas podem utilizar. Quem nos envia uma mensagem recebe um formulário, que nos permite fazer uma primeira triagem e um diagnóstico da situação”, descreve a diretora da ExperimentaDesign. À semelhança do que já acontece com estruturas de outras áreas que ajudam a preparar candidaturas a dinheiros da União Europeia, a agência recebe uma percentagem da verba final caso o projeto seja financiado. Se isso não acontecer, o candidato não terá outros custos. Os prazos de resposta dependerão de cada projeto.

Será a ReCenter Culture a orientar os candidatos para os fundos que mais se adequam a cada um, podendo estes ser municipais, nacionais, europeus e de fora do espaço comunitário. A “bazuca” europeia, ou Plano de Recuperação e Resiliência, é uma das fontes.

“Sabemos que o PRR é um instrumento financeiro expressivo, embora a cultura não esteja contemplada de forma significativa, bem pelo contrário. Há outros mecanismos europeus e de fora da Europa e as autarquias lançaram financiamentos em que a cultura pode ser integrada. Vamos fazer uma mapeamento desses instrumentos e através da parceria com uma associação sediada em Bruxelas vamos fazer advocacy [defesa organizada de interesses] para alargar as verbas já previstas”, explica Guta Moura Guedes. “O tempo de resposta na cultura é normalmente mais lento que noutras áreas. Nas artes plásticas, por exemplo, a demora costuma ser maior, embora existam domínios muito mais experimentados, como o cinema ou a publicidade”, acrescenta.

Bienal ExperimentaDesign pertence ao passado

Segundo Sara do Ó, da DFK, a experiência da consultora na área dos negócios e das “novas práticas de gestão” pode “trazer muito maior robustez” aos agentes culturais. Por outro lado, defende que “através da cultura as empresas podem ir mais longe na forma como intervêm na sociedade”. Isto porque além de trabalhar diretamente com agentes culturais, a agência procura também apelar à participação de empresas ou entidades públicas que habitualmente não trabalham com as indústrias criativas.

Quanto a um possível regresso da bienal ExperimentaDesign, Guta Moura Guedes diz que não é possível porque se fechou um ciclo. “Foi um ciclo de 20 anos de investigação e de construção de uma rede de conhecimento, que agora passou a um ciclo de ação. Daí também a criação do ReCenter Culture. Fechámos o ciclo da difusão do conhecimento e agora estamos a fazer projetos de ação concreta”, aponta a diretora.