Mesmo depois de terem alta clínica, há centenas de pessoas que se mantêm internadas nos hospitais: a 17 de março deste ano, 853 pessoas estavam nesta situação, um número que, apesar de elevado, é inferior ao do ano passado. Ainda assim, o tempo médio de permanência hospitalar depois de uma alta é superior a um mês. Os dados, revelados pelo Público, são da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) e serão revelados esta quinta-feira.

A explicar os números estão a falta de resposta da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) e das Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI). Ao todo, segundo o jornal, os internamentos inapropriados (ou seja, além da alta), a 17 de março, custavam 16,3 milhões de euros.

Nessa data, os internamentos depois da alta hospitalar representavam 5,4% do total de internados e 28.697 dias de internamento — o que significa que, cada pessoa, permanecia no hospital, em média, 33,6 dias. Setenta e sete por cento destes doentes tinham mais de 65 anos e 51% eram homens. No caso dos doentes Covid-19, foram 63 nesta situação, num total de 724 dias de internamento após a alta, ou seja, uma demora de 11,5 dias, em média.

Apesar dos números poderem alarmar, representam uma redução face ao ano passado. Por exemplo, a 18 de fevereiro de 2020, no pré-pandemia, cerca de 1.500 pessoas estavam internadas por motivos sociais, numa média de 77,4 dias de internamento por doente além da alta. Ao Público, o presidente da APAH, Alexandre Lourenço, pede um “modelo mais ágil”, dado que vários estudos mostram que, “por cada dia internada, uma pessoa com 70 anos acamada necessita de uma semana de reabilitação”.

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Os dados constam na 5.ª edição do Barómetro de Internamentos Sociais da APAH, no qual participaram 43 unidades do SNS e do Serviço Regional de Saúde (SRS) da Madeira.

Custos superam 16 milhões de euros

Segundo estimativas apresentadas no barómetro, os casos de internamento por motivos sociais apurados em março representavam um custo de 16,3 milhões de euros para o Estado, mas numa extrapolação para um custo anual, estas camas ocupadas por motivos sociais podem representar um custo de mais de 100 milhões de euros.

Ainda assim, consequência da redução do número de camas ocupadas por questões sociais em relação às identificadas na edição de 2020, o custo é bastante inferior aos quase 47 milhões de euros que custaram os 1.551 internamentos inapropriados em 2020.

Aos 853 internamentos inapropriados nos serviços de internamento médico e internamento cirúrgico, somam-se 159 internamentos sem justificação clínica nas unidades psiquiátricas, que representam 26% do total de 614 internamentos nestas unidades.

O abandono, que foi em 2019 e 2020 a segunda principal causa dos internamentos inapropriados, foi este ano substituído nessa posição pela falta de resposta das ERPI, causa de 18% dos internamentos sociais em março.

A falta de resposta da RNCCI também se destaca numa análise regional como principal causa, mas há exceções como o Algarve, onde 38% dos internamentos sociais dizem respeito a crianças e jovens que aguardam decisões judiciais ou da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens; ou o Alentejo, onde a incapacidade de dar resposta por parte da família e dos cuidadores tem igual peso (29%) à espera por uma vaga na RNCCI.

No conjunto de internamentos inapropriados, as regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Norte representam aproximadamente 75% destes casos, sendo que só a região Norte é responsável por quase metade dos internamentos sociais (420, que representam 49% do total).

Na caracterização dos doentes em internamento inapropriado os homens são o género mais representado (51%) e a maioria (77%) tem mais de 65 anos.

O fenómeno dos internamentos sociais tem um elevado impacto no prolongamento da ocupação das camas em ambiente hospitalar, mas também no aumento dos tempos de espera para internamentos programados e, consequentemente, na respetiva degradação dos cuidados de saúde”, refere o comunicado que acompanha os resultados do barómetro.

Acrescenta ainda que o objetivo deste barómetro é “monitorizar e caracterizar este fenómeno crítico no sistema de saúde português e reforçar a importância de desenvolvimento de soluções conjuntas entre as diferentes entidades envolvidas, de forma a minimizar os impactos e melhorar o serviço de saúde prestado aos portugueses”.