O número de cidadãos da União Europeia (UE) que foram impedidos de entrar em solo britânico dispararam no primeiro trimestre deste ano, apesar das restrições dos voos devido à crise pandémica. Vários turistas denunciam ainda que são tratados como “criminosos” nas fronteiras e são obrigados a deixar a sua impressão digital.

Os números evidenciam esta tendência: no primeiro trimestre de 2021, 3.294 turistas foram impedidos de entrar no Reino Unido, face aos 493 que não conseguiram entrar no primeiro trimestre de 2020 — numa altura em que não havia qualquer restrição devido à pandemia. Com as regras do pós-Brexit, os cidadãos da UE podem entrar sem visto no país, mas podem ser detidos ou mesmo deportados caso as autoridades britânicas desconfiem que os turistas queiram ficar no país para trabalhar ou para estudar.

Contudo, esta regra tem sido generalizada e muitos passageiros que chegam aos aeroportos e aos portos são levados para centros de detenção, de acordo com o The Guardian, e alguns ficam lá durante dias. De acordo com o jornal britânico, uma italiana, que iria para o Reino Unido para visitar o tio e para melhorar o seu  nível de inglês, terá ficado detida na prisão em Colnbrook, sendo que foi expulsa do Reino Unido, mesmo antes do seu familiar, que vivia no país, viesse em sua defesa — algo que vai contra a regulação em vigor.

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Crescem também os relatos de que as autoridades britânicas tratam os cidadãos europeus como “criminosos” — e são obrigados a deixar a sua impressão digital e uma fotografia. Sergio D’Alberti, que queria visitar a família na Irlanda, relatou ao The Guardian que ficou detido no Canal da Mancha e que o trataram como se fosse um criminoso: “Foi horrível. Nunca fui tão humilhado na minha vida. Eles tiraram a minha impressão digital. E eu perguntei-lhes: é normal? E também tiraram uma fotografia como se eu fosse um suspeito”.

As autoridades britânicas desconfiavam que o gerente de um hotel em Itália, atualmente desempregado, queria entrar no país para trabalhar e levantaram suspeitas sobre os rendimentos que o italiano dispunha — cerca de 4.500 euros — considerando um valor discutível para alguém que não trabalha. E também estranharam o facto de Sergio D’Alberti não ter um bilhete de regresso ao seu país de origem.

Mas não é o único caso. A dinamarquesa Angelina, uma pasteleira, também tentou entrar no Reino Unido para visitar o namorado, mas as autoridades britânicas não a deixaram entrar no país porque anteriormente já tinha pedido uma autorização para trabalhar em solo britânico, mas terá desistido entretanto. 

Com o fim das restrições aéreas após a pandemia, vários especialistas ouvidos pelo The Guardian esperam que o número de cidadãos europeus detidos nas fronteiras aumente.