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"Master of None" à terceira temporada: desta vez é mesmo mestre de nada

Este artigo tem mais de 2 anos

Susana Romana viu o regresso da série de Aziz Ansari (em que este já não é protagonista). Conclusão? Não bastam personagens com potencial aliadas a uma boa estética quando tudo o resto é uma deriva.

A história da relação entre Denise e Alicia, da sua demanda por um filho e a consequente implosão da relação tem potencial de interesse, nem que seja por permitir abordagens menos exploradas. Mas não basta para fazer desta uma boa temporada
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A história da relação entre Denise e Alicia, da sua demanda por um filho e a consequente implosão da relação tem potencial de interesse, nem que seja por permitir abordagens menos exploradas. Mas não basta para fazer desta uma boa temporada

A história da relação entre Denise e Alicia, da sua demanda por um filho e a consequente implosão da relação tem potencial de interesse, nem que seja por permitir abordagens menos exploradas. Mas não basta para fazer desta uma boa temporada

Um dos meus memes preferidos de toda a internet, por me rever como num decalque em papel vegetal, é aquele que diz “esta reunião devia ter sido um e-mail”. Refere-se a todas as vezes que fomos inutilmente arrastados para reuniões de horas, mais redundantes que as rotundas de Viseu, quando afinal meia dúzia de linhas tinham arrumado a questão. É isso que fica depois desta temporada de “Master Of None”, mesmo tendo apenas cinco episódios: esta série podia ter sido um telefilme. Curtinho.

“Master Of None” surgiu originalmente em 2015 como o grito do Ipiranga criativo de Aziz Anzari, até então comediante de stand up e ator da sitcom de sucesso “Parks And Recreation”. Foi um dos primeiros grandes sucessos produzidos em exclusivo para a Netflix, conquistando o público e amealhando uma jeitosa vitrine de Emmys e Globos de Ouro. A segunda temporada, de 2017, continuou como uma série de humor, mas abraçando uma vertente mais melancólica e mostrando o interesse crescente de Anzari, cada vez mais imerso na realização dos seus próprios episódios, pelo cinema italiano. Ao longo de duas temporadas robustas os espectadores apaixonaram-se por Dev, um ator nova-iorquino à procura de trabalho e de um relacionamento. A segunda season acabou com uma dúvida: teria Dev encontrado ou não o amor junto de Francesca, uma italiana comprometida com um amigo?

[o trailer da nova temporada de “Master of None”:]

Quatro anos se passaram, nos quais muito se especulou sobre se “Master Of None” voltaria para uma terceira vaga e saciar a curiosidade deixada no ar. Entretanto, duas calamidades: uma pandemia mundial e um problema pessoal. Anzari foi apanhado na onda do Me Too, depois de uma mulher o ter acusado de má conduta sexual durante um encontro – algo que o ator nega, dizendo que tudo foi consensual. Apesar de ter purgado essa polémica no seu especial de stand up “Right Now” (de 2019), o que é certo é que quase desapareceu da vida pública. Talvez isso explique que na terceira temporada de “Master Of None” (que realizou na totalidade e co-escreveu com Lena Waithe), o personagem Dev apareça apenas durante escassos minutos.

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Estamos aqui perante a primeira opção questionável desta nova temporada: não é o “Master Of None”, é outra coisa. O subtítulo “Moments In Love” não chega para distanciar à partida espectadores entusiasmados por retomarem contacto com uma série da qual gostam (gostavam?). Nem se pode propriamente dizer que é um spin off. Dev mal aparece, o humor deixa de ser o mote (não há uma única piada no guião, talvez uma ou outra conversa mais cáustica) e de repente estamos nas agruras da sua melhor amiga (Denise, interpretada por Waithe) e da sua mulher (Alicia, desempenhada por uma Naomi Ackie, a melhor parte desta temporada). É mesmo completamente outra série, como se o sono pós-jantar nos tivesse feito carregar no menu errado da Netflix.

A história deste casal de lésbicas, da sua demanda por um filho e a consequente implosão da relação tem potencial de interesse, nem que seja por permitir abordagens menos exploradas. Nem é isso que está em causa.  O grande problema aqui é que é como se nos prometessem uma temporada nova do “Breaking Bad” e de repente fosse uma série de ficção científica sobre o Mike no qual Walter White aparecia durante uns sete minutos ao todo. São expectativas defraudadas. E só sobreviveríamos a essa sensação de desilusão se, na premissa a que se propõe, esta terceira temporada fosse ótima. E está, infelizmente, longe de o ser.

Não bastam personagens com potencial aliadas a uma boa estética quando tudo o resto é uma deriva na qual tentamos a todo o custo encontrar um interesse que simplesmente não está lá. Os episódios são desiguais, quer na duração (tanto podem ter 20 minutos como 50), quer na qualidade. É uma história que merecia ser contada, mas talvez não nestes moldes de experiência masturbatória. Mal comparado, é como “Princípio, Meio e Fim” de Bruno Nogueira – algo que foi feito porque o comediante que assinou contrato já tem tal estatuto que pode fazer o que lhe apetece, inconsequentemente, egoistamente. Naomi Ackie (que faz de Alicia) é uma óptima actriz que merece ficar debaixo de olho, mas nem isso não chega para lhe sentirmos as dores em episódios que se demoram no acessório e fogem do essencial. É tudo estética, tudo Ansari a mostrar que assina a newsletter da Cahiers du Cinéma. Mas espremido, fica muito pouco.

Esta terceira temporada parece fruto de um braço de ferro com a Netflix que Azari claramente ganhou: se querem de volta “Master Of None” (algo que o ator/guionista/realizador já tinha dito repetidamente que dificilmente aconteceria), então aceitam que quero fazer outra coisa e podemos simplesmente dar-lhe o nome que as pessoas já conhecem. O resultado é uma experiência desapontante, como quando abrimos uma lata de bolachas em casa da avó e estão lá dentro agulhas e carrinhos de linhas. O agregador de reviews Rotten Tomatoes bem o comprova:  a temporada tem a nota de 84 por cento junta da crítica especializada (por certo devido à  estética e compasso cinematográficos, mas mesmo assim longe do 100 que chegaram a ter em temporadas anteriores), mas apenas 42 por cento junto do público.

“Master Of None” regressou de surpresa, tendo sido filmado em sigilo e sendo a estreia divulgada sorrateiramente escassas semanas antes. Talvez tivesse sido útil lembrarem-se, algures no processo,  que não é suposto as surpresas serem aborrecidas.

Susana Romana é guionista e professora de escrita criativa

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