A coordenadora do BE disse este domingo, em Santarém, que não pode haver escolha “entre direitos humanos e economia” e defendeu regras para acabar com os abusos contra os trabalhadores migrantes, nomeadamente o fim dos intermediários e o recrutamento direto.

Catarina Martins falava, na praceta Amarela, no populoso bairro de S. Domingos, na sessão de apresentação dos cabeças de lista aos órgãos autárquicos escalabitanos nas eleições deste ano, a qual contou com a presença de um grupo de trabalhadores migrantes que vivem em Santarém há cerca de dois anos e cujas histórias quis ouvir, agradecendo a coragem por estarem presentes, apesar de todas as pressões.

A líder do Bloco de Esquerda (BE) referia-se à declaração feita pelo secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, de que “as pessoas são contra as estufas de Odemira, mas depois querem tomate ‘cherry'”.

“Como quem diz que quem quiser agricultura em Portugal terá de ser cúmplice do trabalho forçado e da exploração do trabalho migrante”, declarou Catarina Martins, frisando que a escolha não pode ser “entre direitos humanos e economia”.

“O que fazemos é impor regras à economia para que ela respeite quem trabalha”, acrescentou a dirigente bloquista, reafirmando o empenho do BE em conseguir uma política de imigração “que crie caminhos legais e a responsabilização criminal de toda a cadeia que ganha com a exploração dos trabalhadores migrantes que estão numa situação de trabalho forçado”.

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Reconhecendo que pode ser difícil, Catarina Martins afirmou que “intolerável é aceitar o trabalho forçado em Portugal”.

Para a líder do BE, só há tantos trabalhadores migrantes a ser explorados, seja em Odemira, em Almeirim ou em Santarém, “porque há quem lucre, quem ganhe muito dinheiro”, aproveitando-se de quem não sabe a língua nem conhece as leis e não tem rede social de suporte.

Referindo-se aos trabalhadores migrantes presentes, alguns a trabalhar na agricultura, outros na construção, em fábricas ou já com negócios próprios, Catarina Martins afirmou que foram recrutados por uma empresa no norte da Índia, à qual pagaram, e foram postos a trabalhar “sem os contratos devidos para os sítios onde foram colocados”.

Nesse caminho, passaram por sucessivos intermediários, “a ganharem sempre o dinheiro que não é deles, roubando salário e condições” a estes trabalhadores, disse.

Aos trabalhadores, Catarina Martins reafirmou o “compromisso de fundo” do Bloco de Esquerda, o de que “em Portugal, todas as pessoas, independentemente da cor da sua pele ou do passaporte que trazem no bolso, têm os mesmos direitos, nem menos nem mais, também no trabalho”.

Para isso, afirmou, o BE quer uma política de migração que acabe com os intermediários, permitindo aos trabalhadores que são necessários às empresas portuguesas “entrarem no país com todas as condições de um contrato de trabalho, com todas as condições de serem recrutados diretamente por quem precisa do seu trabalho”, e “garantir que toda a gente que ganha dinheiro com a exploração destes trabalhadores é responsável criminalmente pelo trabalho forçado”.

“Não é só a empresa de recrutadores que os foi buscar e que ninguém sabe quem é, onde está. Aparece num dia e desaparece no outro”, acrescentou a líder do BE, pedindo a responsabilização direta de “toda a cadeia e de todos os responsáveis que ganham dinheiro à conta do abuso” de que estes trabalhadores são alvo.