O Presidente angolano orientou esta terça-feira o seu novo ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança a fazer o levantamento e pôr fim a todos os oficiais “fantasmas” no seio das forças de defesa e segurança do país.
João Lourenço falava esta terça-feira na cerimónia de tomada de posse de Francisco Pereira Furtado, nomeado na segunda-feira pelo chefe de Estado angolano para substituir no cargo Pedro Sebastião, exonerado na sequência de um escândalo financeiro que envolve oficiais da Casa de Segurança.
“Gostaria de desejar, fazer votos, que tenha sobretudo muita coragem, vontade, não apenas de trabalhar, mas de mudar radicalmente o estado das coisas, não apenas nas Forças Armadas Angolanas, mas em todos os órgãos de defesa e segurança, nas forças armadas, Polícia Nacional, serviços, e tal como no quartel, na parada, quando se chama pelo soldado, o soldado responde presente”, disse João Lourenço.
O chefe de Estado angolano frisou que uma das missões do ex-Chefe do Estado-Maior General das FAA, agora em novas funções, é “chamar pelos efetivos para que todos respondam presente”.
Porque todos aqueles que recebem salários do Estado têm necessariamente de responder presente, a não acontecer isto devemos concluir imediatamente que estamos perante um efetivo ‘fantasma’, portanto, uma das tarefas que terá, será, com certeza, limpar todos os efetivos ‘fantasmas’ que existirão nos órgãos de defesa e segurança”, afirmou.
“Os últimos acontecimentos de Luanda vêm demonstrar que é por aí que, com dinheiros públicos, estamos a engordar o “caranguejo”, portanto, uma das suas missões é travarmos o quanto antes isto”, acrescentou, numa referência à “Operação Caranguejo”, relativo a um grupo de oficiais afetos à Casa de Segurança do Presidente da República, implicados num processo que envolve elevadas somas monetárias, na ordem dos milhões de dólares, euros e kwanzas.
João Lourenço exortou o Banco Nacional de Angola e à Unidade de Informação Financeira a um maior controlo das operações bancárias, com vista a garantir a prevenção do crime.
“É evidente que a nossa sociedade tem que colaborar, gostaria de destacar também a necessidade de prestarmos atenção particular aos bancos, porque tudo isso passa pela banca e há comportamentos, procedimentos, da banca que não são normais, precisamos de mudar imediatamente”, disse, apelando a “uma ação mais forte, mais contundente, da parte do banco central e da parte da Unidade de Informação Financeira”.
O objetivo não é apenas punir e castigar os bancos prevaricadores, “mas sobretudo encontrar um mecanismo que garanta a prevenção do crime, que torna — não digo impossível –, mas pelo menos difíceis, que as práticas a que assistimos não tenham continuidade”, frisou.
Em declarações à imprensa, Francisco Pereira Furtado admitiu ter uma grande responsabilidade pela frente, realçando que foi orientado pelo Presidente da República sobre o que deve exatamente fazer.
“O Presidente da República orientou exatamente aquilo que devo fazer relativamente à adequação das estruturas da própria Casa de Segurança e o trabalho profundo de cadastramento físico de todos os efetivos dos órgãos de segurança e defesa nacional, por formas a que possamos dar dignidade a estes órgãos que servem o país e que devem estar adequadas à realidade daquilo que o país realmente precisa e, acima de tudo, a moralização da sociedade castrense e os órgãos de segurança em si”, referiu.
O Presidente angolano exonerou na segunda-feira Pedro Sebastião, do cargo de chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, depois de ter afastado outros sete oficiais daquele órgão na semana passada.
Um comunicado da Procuradoria-Geral da República anunciava no dia 24 do mês passado que foi aberto um processo que envolve oficiais das Forças Armadas Angolanas afetos à Casa de Segurança do Presidente da República, por suspeita do cometimento dos crimes de peculato, retenção de moeda, associação criminosa e outros.
A nota da PGR frisava que no âmbito do referido processo foram apreendidos valores monetários “em dinheiro sonante, guardados em caixas e malas, na ordem de milhões, em dólares norte-americanos, em euros e em kwanzas, bem como residências e viaturas”.
As exonerações na Casa de Segurança do Presidente da República surgiram após notícias divulgadas na imprensa angolana sobre um oficial das Forças Armadas Angolanas, supostamente o chefe das finanças da banda musical da Presidência da República, major Pedro Lussaty, que tinha sido detido em posse de duas malas com dez milhões de dólares e quatro milhões de euros, supostamente a tentar sair do país.
Na cerimónia tomaram posse também o novo embaixador de Angola na Rússia, dois vice-governadores provinciais e o Chefe dos Serviços de Inteligência Militar.