O ministro da Habitação britânico, Robert Jenrick, defendeu esta sexta-feira a “abordagem ultra cautelosa” de despromover Portugal da “lista verde” de viagens para a “lista amarela” enquanto é avaliado o risco de uma mutação da variante Delta do coronavírus.

Em declarações aos jornalistas, e citado pela BBC, Jenrick começou por admitir que o governo britânico sempre admitiu que iria ter em conta uma “abordagem cautelosa”. O ministro diz perceber que esta é uma decisão “frustrante” para as pessoas que estão em Portugal e para quem trabalha no sector, “mas fizemos tantos progressos enquanto país (…) que precisamos de adotar uma abordagem cautelosa para proteger o Reino Unido de infeções e de novas variantes”.

“Assistimos a um aumento muito significativo de casos positivos em semanas recentes”, disse, afirmando que o número de casos “duplicou” em Portugal no espaço de três semanas desde a última revisão. Num segundo argumento para justificar a decisão, o ministro abordou a variante do Nepal que “emergiu” em Portugal. “Achámos que era importante sermos cautelosos enquanto estamos a aprender mais sobre esta nova variante.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Ainda não sabemos se isso será um problema, mas os nossos cientistas estão neste momento a investigar”, referiu ainda, afirmando que os mesmos estão analisar as características desta variante e, acima de tudo, se as vacinas já existentes são eficazes.

Em declarações, também na manhã de sexta-feira, à BBC Radio 4, ao programa Today, o ministro falou numa “abordagem ultra cautelosa”, admitindo ainda as mesmas preocupações. 

Portugal, incluindo os arquipélagos da Madeira e Açores, vai deixar a “lista verde” do governo britânico para viagens internacionais na terça-feira às 4h, anunciou o Ministério dos Transportes britânico.

Segundo o Ministério, Portugal passa para a “lista amarela” para “salvaguardar a saúde pública contra variantes preocupantes” e proteger o programa de vacinação britânico. Os países na “lista amarela” estão sujeitos a restrições mais apertadas, nomeadamente uma quarentena de 10 dias na chegada ao Reino Unido e dois testes PCR, no segundo e oitavo dia, enquanto a “lista verde” isenta de quarentena os viajantes que cheguem a território britânico.

Num comunicado, o governo britânico refere que, de acordo com a base de dados europeia GISAID, foram identificados em Portugal 68 casos da variante Delta (B1.617.2, identificada pela primeira vez na Índia), “incluindo alguns casos da variante Delta com uma mutação adicional, potencialmente nociva”.

Portugal sai da lista verde do Reino Unido. Governo lamenta “decisão cuja lógica não se alcança”

Na quinta-feira à noite, o microbiologista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) João Paulo Gomes disse que em Portugal foram detetados apenas 12 casos da mutação da chamada variante indiana de Covid-19. A mutação em causa, K417N, foi identificada num número ainda reduzido de casos, mas também foi encontrada na variante Beta (descoberta na África do Sul), contra qual as vacinas são menos eficazes, razão pela qual cientistas estão preocupados.

K417N: a mutação que explica a decisão do Reino Unido e está a preocupar os cientistas

Jenrick reiterou que a este fator se juntaram preocupações com o aumento no número de casos em Portugal e o risco que representa no Reino Unido a variante Delta, que ameaça o plano de desconfinamento em curso em Inglaterra. As autoridades de Saúde britânicas já admitiram que a variante Delta é agora dominante no país, ultrapassando a variante Alpha (B.1.1.7, detetada pela primeira vez no Reino Unido) que está na origem de um rápido aumento de infeções e hospitalizações.

Esta evolução e a ameaça de uma terceira vaga da pandemia de Covid-19 estão a colocar pressão no primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que previa eliminar em 21 de junho todas as restrições que ainda restam do confinamento decretado em janeiro.

“Estamos a chegar a um momento difícil de decisão sobre ir mais longe no dia 21 de junho, e esse será um momento importante para o país. Espero que as pessoas percebam que uma abordagem de segurança em primeiro lugar nesta altura é o mais acertado”, vincou Jenrick. Desde o início da pandemia foram notificados 127.794 óbitos de Covid-19 no Reino Unido, o índice mais alto na Europa.

Artigo atualizado às 14h40