E, de repente, a Copa América tornou-se um dos tópicos mais quentes de um verão recheado de desporto. A instabilidade social na Colômbia e o recuo da Argentina face aos números da pandemia levaram à mudança da sede do torneio sul-americano para o Brasil — algo que poucos compreenderam, tendo em conta os consistentes e assustadores números da Covid-19 no país. E, ao que parece, a decisão está a causar um mal-estar palpável até no interior da seleção brasileira.

Na antecâmara de uma dupla jornada a contar para a qualificação para o Mundial 2022, contra o Equador e o Paraguai, o selecionador Tite acabou por revelar que a comitiva está contra a decisão do governo brasileiro de organizar a Copa América no país. “Temos uma opinião muito clara e fomos lealmente, numa sequência cronológica, eu e Juninho [Paulista, diretor das seleções], externando ao presidente [da Federação brasileira, Rogério Caboclo] qual é a nossa opinião. Depois, pedimos aos atletas para focarem apenas no jogo contra o Equador. Na sequência, solicitaram uma conversa direta com o presidente. Foi uma conversa muito clara, direta. A partir daí, a posição dos atletas também ficou clara. Temos uma posição mas não vamos externar isso agora. Temos a prioridade de jogar bem agora e ganhar o jogo contra o Equador. Entendemos que, depois dessa data FIFA, as situações vão ficar claras”, disse o treinador em conferência de imprensa, deixando perceber que só depois dos próximos dois jogos é que ficará fechada a participação ou não do Brasil na competição.

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Na conferência — que já começou com duas horas de atraso –, também deveria ter estado Casemiro, capitão da seleção brasileira que não surgiu diante dos jornalistas precisamente por estar contra a organização da Copa América no país — algo que foi confirmado por Tite. “Eles têm uma opinião, externaram-na ao presidente e vão externá-la ao público num momento oportuno. E isso também tem a ver com a ausência do nosso capitão, Casemiro, aqui nesta entrevista”, referiu o selecionador. Além da ausência do médio do Real Madrid, outras cinco entrevistas coletivas de jogadores que estavam marcadas para os últimos dias também não aconteceram.

Tite reconheceu ainda que toda a polémica tem um “efeito negativo” na produtividade da equipa. “Em campo, traz prejuízo. Mas temos de superar e jogar bem. Compete-nos a todos filtrarmos essa situação, fazer um grande jogo e trazer o resultado que merecermos”, atirou, acrescentando ainda que não tem o objetivo de “abrir mão das respostas”. “Estou colocando os factos em cima da mesa, com discernimento e sensatez. A Copa América é muito importante. Mas, mais importante ainda, é o nosso jogo de amanhã [sexta-feira]. É jogarmos bem, porque vamos ser cobrados, até pelos adeptos. Temos uma posição clara. Mas temos de deixar a nossa cabeça voltada para o jogo de amanhã. Entendo-vos a todos e também entendo que esta posição é importante, não estou a dispensar-me”, concluiu.

Entretanto, nas redes sociais, o ministro-chefe da Casa Civil brasileira confirmou que a Copa América vai mesmo acontecer no país, espalhada entre Brasília, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Goiás. “Confirmada a Copa América no Brasil. Venceu a coerência! O Brasil que sedia jogos da Libertadores, Sul-Americana, sem falar nos campeonatos estaduais e brasileiro, não poderia virar as costas para um campeonato tradicional como este. As partidas serão em Mato Grosso, Rio de Janeiro, Distrito Federal [Brasília] e Goiás, sem público”, escreveu Luiz Eduardo Ramos no Twitter. A Copa América arranca no dia 13 de junho, precisamente com um Brasil-Venezuela no Estádio Mané Garrincha, sendo que a final está marcada para o dia 10 de julho, no Maracanã.