A coordenadora nacional do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, encerrou este sábado a VII Convenção da estrutura regional com a afirmação de que o partido “é a única oposição nos Açores”, porque tem “um projeto”.

As eleições regionais de 25 de outubro de 2020 deixaram “sinais de alerta para os Açores e para todo o país”, destacou a responsável política, que falava em Ponta Delgada, no encerramento da VII Convenção Regional do Bloco de Esquerda dos Açores.

Catarina Martins reiterou a mensagem várias vezes repetida pelo coordenador regional, António Lima, dizendo que “foram os erros do Partido Socialista que fizeram o caminho da direita e o Bloco foi o partido que se opôs a um Governo de direita”.

O BE é, por isso, “hoje o partido da oposição nos Açores, porque é o partido com um projeto, porque é um partido com capacidade, é o partido que tem uma alternativa real nos Açores e que a afirma, sem medo, todos os dias”, defendeu.

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A líder partidária denunciou “a normalização do discurso que num dia diz uma coisa e no outro dia diz o seu contrário”, acrescentando que “uma ‘caranguejola’ que tudo o que quer é permanecer no poder, degrada a própria vida democrática, degrada a forma como os cidadãos e as cidadãs olham para a vida política”.

“Do ponto de vista económico, das soluções para os Açores, de facto, não há nenhuma novidade, e há a permanência de um projeto monocultura, agora do turismo”, considerou.

Para Catarina Martins, o Governo de coligação PSD, CDS-PP, PPM traz “um projeto de uma economia rentista, de uns poucos grupos económicos que vivem à sombra do Governo Regional, ficando com o que é de todos, cavando, assim, as desigualdades, quando uma elite se apropria da riqueza fantástica desta região”.

“É também por isso que o Bloco nos Açores é a única oposição, porque foi sempre oposição a esta economia rentista, a esta economia de desigualdade, que faz dos Açores, sendo uma região tão rica, aquela onde há mais pobreza no nosso país”, rematou.

Catarina Martins responsabiliza PS por injeção desnecessária de fundos no Novo Banco

A coordenadora nacional do BE voltou também responsabilizar o PS por se ter aliado à direita para injetar mais fundos no Novo Banco. “Ano após ano, o PS e a direita chumbaram todas as alternativas a esta entrega ruinosa do Novo Banco à Lone Star, e a cada ano diziam que uma nova injeção tinha de ser feita porque, se não, teríamos uma crise no sistema financeiro, porque o banco não ia cumprir os rácios a que o BCE [Banco Central Europeu] obriga”, afirmou Catarina Martins.

A líder bloquista acrescentou que “este ano não haveria nenhuma crise financeira se não tivesse sido injetado nem mais um tostão no Novo Banco, desde logo porque o Novo Banco não precisa de mais capital”, referindo que, “como sempre, a direita e o Partido Socialista” formaram “uma aliança em nome do poder financeiro.

A responsável lembrou que o partido que lidera fez com que a injeção fosse retirada do Orçamento do Estado “para tornar absolutamente clara que nenhuma injeção podia ser feita no Novo Banco sem um Orçamento retificativo”, uma iniciativa que teve o voto favorável do PSD, partido que agora “deu uma cambalhota final e lá se absteve” no projeto de resolução apresentado pelo BE que recomendava a submissão à Assembleia da República, para discussão e votação, de qualquer decisão de injeção de capital no Novo Banco.

O Conselho de Ministros aprovou, no final de maio, o diploma que altera o quadro de financiamento do Fundo de Resolução, permitindo que este se financie junto da banca para concretizar a transferência para o Novo Banco. Esta medida surge num “momento em que o país atravessa uma pandemia, em que tanta gente desespera por um apoio que não chega, uma injeção que não é sequer necessária ao equilíbrio de um banco, é apenas o privilégio da elite contra o interesse de todos”, destacou a bloquista.

A coordenadora disse que não iria olhar para a direita, porque esta “não tem nenhum programa para o país”, mas deixou um repto a António Costa, para que o primeiro-ministro avance com as alterações à legislação do trabalho que tem anunciado.

Para isso, sugere “que se comece já por avançar com quatro das propostas que têm tudo para ser resolvidas em muito pouco tempo”, como a “licença para os cuidadores poderem ter também no código do trabalho algum direito”, uma medida que “já devia ter sido criada há um ano”.

Há também “três medidas na especialidade” que podem ser aprovadas: a regulação do teletrabalho no código do trabalho, a responsabilização de “toda a cadeia” envolvida em situações de trabalho forçado e o fim da “chantagem colocada em cima dos trabalhadores quando há um caso de despedimento ilícito”.

Para as autárquicas, o partido irá avançar com “soluções que respondem às crises todas do nosso tempo: à crise pandémica e às desigualdades que ficaram mais fundas, e à pobreza, que se aprofundou; à crise da habitação, que já cá estava e está pior; à crise climática, à ambiental, que é a crise da humanidade, das nossas vidas”. Promete ainda “combater as desigualdades e todas as discriminações”.

A VII Convenção Regional do Bloco de Esquerda dos Açores realizou-se este sábado, em Ponta Delgada. Estava inicialmente prevista para 2020, mas teve de ser adiada, devido à pandemia de Covid-19. A última convenção aconteceu em julho de 2018, sob o lema “Mais Açores, Mais Esquerda”

O partido aprovou, por unanimidade, a moção global “Combater as desigualdades, construir o caminho à esquerda”, a única levada a votação, que tinha como primeiro subscritor António Lima. O atual coordenador regional será reconduzido e foi também eleita a nova Comissão Coordenadora Regional, que passa de 15 para 17 membros.

Essa estrutura mantém-se praticamente inalterada, registando-se a saída do ex-deputado regional Paulo Mendes e de Vitória Fróias, e a entrada de Giuseppe Grassi, Hugo Bettencourt, João Margarido Ramos e Mário Rui Pacheco.

Em debate estiveram também moções sobre os jovens, a violência doméstica, as alterações climáticas e uma moção que apela à união e coesão no partido.