O agente da polícia timorense suspeito de ter matado duas pessoas e ferido uma terceira em Díli, todas da mesma família, estava de piquete quando se deslocou à casa onde disparou contra as vítimas, segundo investigadores.

Fontes da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) e da Polícia Científica de Investigação Criminal (PCIC) envolvidos na investigação explicaram à Lusa que o agente, que foi detido, estava a trabalhar na altura dos factos.

“O agente estava de piquete e a fazer segurança a um dos locais de quarentena em Díli naquele momento e, por isso, estava armado”, disse uma das fontes.

A lei e os procedimentos atualmente em vigor em Timor-Leste determinam que os agentes têm de entregar a arma quando não estão de serviço.

A informação preliminar das investigações — a PCIC está a liderar a investigação criminal e a PNTL a investigação disciplinar — indica que, na madrugada de sábado, o autor dos disparos terá sido informado por um familiar de algum incidente, disseram as fontes à Lusa.

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Em seguida, o agente terá saído do local onde prestava serviço e terá ido a casa para tirar a farda da polícia antes de se deslocar à residência das vítimas, no bairro de Lahane, em Díli, disparando e matando a tiro duas pessoas e ferindo uma terceira.

Desconhece-se o motivo da ação do agente da PNTL, mas os dados preliminares apontam para uma discussão entre um dos seus filhos e uma das vítimas mortais, disseram as mesmas fontes da investigação.

A PCIC deverá ter concluído o auto do crime até segunda-feira, para apresentar o suspeito ao Ministério Público e ser enviado ao tribunal de Díli.

Alegadamente em retaliação pelo crime, um grupo ainda não identificado incendiou, no sábado, a casa do agente, também em Lahane, e destruiu a casa de um seu familiar na zona de Dare, disseram fontes policiais.

O vice-ministro do Interior, António Armindo, disse à Lusa que “há que aguardar pela conclusão da investigação”, escusando-se a comentar a possibilidade de o incidente ter sido originado por discussões entre duas famílias.

O primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, que é também ministro do Interior, condenou já a ação do elemento da PNTL, manifestando-se “triste e preocupado”, e comprometeu-se a levar as investigações até às últimas consequências.

As autoridades policiais e governamentais têm insistido que este é um ato isolado, notando que a PNTL tem em vigor regras e procedimentos que obrigam os agentes a entregar as armas quando estão fora de serviço.

A tensão em Díli tem vindo a aumentar nos últimos meses, devido ao impacto das restrições das medidas contra a covid-19, a que se soma a degradação das condições socioeconómicas de muitas famílias.

Houve já vários incidentes de uso excessivo da força por agentes que estavam a fazer cumprir as restrições relacionadas com o combate à pandemia.

Em paralelo, agentes da PNTL têm procurando sensibilizar as populações para os riscos da pandemia, distribuindo máscaras e ensinando normas de distanciamento social.