Luís Dias, o agricultor que estava em greve de fome há 28 dias, em frente ao palácio de Belém, a lutar contra a burocracia e a falta de resposta do Estado, interrompeu a greve de fome. Em comunicado, Luís Dias diz que “nada mudou e tudo mudou” e admite que termina a greve de fome “sensibilizado pelo apoio de tantos” e com os apelos para que preservasse a saúde.

A longa teia de obstáculos e burocracia que levou Luís Dias a uma greve de fome (que já dura há 27 dias)

“Ao longo destas quatro semanas, o Governo manteve-se incapaz de assumir as suas responsabilidades, apesar de elas terem sido reconhecidas em 2019 pelo então ministro da Agricultura Capoulas Santos, pela Provedora da Justiça e por decisão do Tribunal Administrativo de Lisboa, no início de 2020. Era esta a realidade do caso antes de iniciar a greve de fome e, 28 dias depois, esta realidade não se alterou”, escreve no comunicado em que anuncia o fim do protesto.

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Apesar de não ter visto quaisquer mudanças, refere estar “profundamente sensibilizado” com as manifestações de apoio e solidariedade que recebeu ao longo dos vários dias em que esteve em frente ao Palácio de Belém, desde políticos a traseuntes. Foi visitado pelo Presidente da República, por Ana Gomes, por João Paulo Batalha e vários ativistas que demonstraram apoio.

A Marcelo Rebelo de Sousa, Luís Dias agradece ter-se interessado pelo caso e ter querido manter-se informado. “Espero que exerça a sua magistratura de influência no sentido, não de defender o meu interesse em particular, mas de garantir o regular funcionamento das instituições democráticas que a Constituição lhe confia, para chegarmos tão rapidamente quanto possível a uma solução”, refere o agricultor.

O Presidente da República esteve duas vezes com o agricultor, mas da primeira vez “nem 20 segundos ficou”, contou ao Observador. “Eu estava deitado, abri os olhos e vi-o à minha beira. Ele disse qualquer coisa, mas tinha a máscara e não consegui perceber. Ainda tentei levantar-me e dizer-lhe que sou surdo, mas ele foi-se logo embora”.

No próximo sábado, informou entretanto a Presidência da República, em nota enviada à Lusa, Luís Dias vai ser recebido por Marcelo Rebelo de Sousa, em Belém. Presente estará também o presidente da Junta de Freguesia em que se encontra a propriedade em causa. “A Presidência da República tem acompanhado o estado de saúde do grevista, que se encontra no jardim Afonso de Albuquerque, assim como a questão de fundo que já motivou audiência por parte do secretário de Estado do Ministério envolvido, que, no entanto, se revelou infrutífera até agora”, acrescentou ainda a nota.

Também a ex-candidata presidencial Ana Gomes visitou este domingo o agricultor Luís Dias, prometendo levar até Bruxelas o seu protesto acerca das irregularidades que alega terem sido cometidas na atribuição dos fundos europeus.

Mas também apelou ao fim do protesto, algo que viria a acontecer. “Aconselhei o Luís a parar. Não quero vê-lo degradar ainda mais a sua situação física. Já foi algumas vezes ao hospital e eu penso que nada justifica que ele ponha ainda mais em causa a sua saúde”, disse Ana Gomes no local.