Ficou na história a acusação socialista a Pedro Passos Coelho do “ir além da troika” e agora no PS, António Costa inaugurou o ir além do pré-Covid. Na apresentação da moção que vai levar ao congresso, António Costa repete que o objetivo da caminhada (que atira para lá de 2023) que se segue “não é voltar a 2019 nem onde o país estaria se não tivesse havido Covid”. É ir além, crescer mais do que estava previsto, com recurso às ajudas comunitárias que Costa tem vendido no périplo que tem feito pelas distritais socialistas. Em Faro, esta segunda-feira, sublinhou ainda o objetivo da regionalização.

“A regionalização para o PS não é um slogan para agitar em campanha eleitoral, mas é essencial para a modernização do Estado. Temos de construir esse processo passo a passo, pé na terra, sem aventureirismos” para “avançar de forma segura para o objetivo” que António Costa assume para 2024: o referendo à regionalização. Isto depois de estar completo o primeiro mandato autárquico em que a descentralização de competências vai funcionar.

Desde que entregou a moção ao congresso, o líder socialista tem andado no roteiro noturno das distritais para apresentar o texto, mas o discurso tem ido além da estratégia partidária pura e dura, com o secretário-geral que também é primeiro-ministro a puxar os galões das conquistas do Governo na negociação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), nomeadamente as verbas que conseguiu para cada região. E no Algarve foi no mesmo sentido que o líder distrital Luís Graça que antes dele já tinha dito que a região “tem de ter vida para além do turismo”. Uma lição da pandemia, anotou o deputado socialista.

Costa quer ficar para gerir crise. Com a esquerda e sem Rio, o “complacente” com Ventura

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

E Costa seguiu esse aviso para dizer aos socialistas do distrito que há que “diversificar a base económica” de cada região. E também que as verbas não “excluem o acesso dos algarvios e das empresas e municípios algarvios a outras verbas que existem noutros programas. Se há um programa sobre o mar, se o Algarve não se lança a aproveitá-lo, algo está errado”, afirmou. “O mar não serve só para nadar” e o “sol não se milita a bronzear a pele”. Também é, exemplificou, “uma fonte de energia renovável”.

Recorde-se que nas distribuição de fundos, a Comissão acordou com Portugal um pacote adicional de 300 milhões de euros, no âmbito do próximo Quadro Financeiro Plurianual e do Fundo de Recuperação, isto por ter sido uma das regiões do país mais afetada com os confinamentos da pandemia. E Costa considera que “esta verba específica para diversificar a economia do Algarve” traz uma obrigação especial à região.

Aliás, a todo o país. E é aqui que entra o tal ir além do país pré-Covid: “Temos a obrigação e responsabilidade de crescer mais do que estávamos a crescer por causa do programa de natureza extraordinária” que “é um trampolim para irmos mais além daquilo que tínhamos a possibilidade de ir”.

Atirar dinheiro para cima de uma economia em crise, aproveitando os apoios comunitários que se estenderam a todas as economias da União, é a estratégia que Costa leva no bolso para a temporada que se segue no PS e no país. E volta a lembrar os tempos do “além da troika” ao falar, mais uma vez, das “medidas de austeridade que vimos bem o que deram: cortes de salários e pensões, não deram crescimento económico”. E ainda outro fantasma do passado: “O diabo não apareceu e voltámos de novo a convergir com a União Europeia”. A apresentação da moção pelo próprio líder seguirá pelo país socialista.