A adesão à greve dos trabalhadores da Super Bock supera os 80%, informou esta terça-feira o sindicato, segundo o qual a área de fabrico de cerveja está “totalmente parada” e apenas estão a funcionar duas das seis linhas de enchimento.

Em declarações à agência Lusa, o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (Sintab) José Eduardo Andrade disse que estes foram os níveis de adesão do turno da noite (a greve começou às 20h00 de segunda-feira), mas a “expectativa é que se mantenham”.

Tivemos a área do fabrico e adegas totalmente parada e, na área do enchimento, de seis linhas estiveram a andar duas, com recurso aos chefes e a trabalhadores subcontratados — consideramos nós, de forma ilegal –, para substituir os trabalhadores em greve”, avançou.

Segundo o dirigente sindical, “infelizmente as chefias ainda não têm a predisposição para assumirem a luta dos trabalhadores como sendo sua”, apesar de serem “trabalhadores também” e “padecerem dos mesmos males, porque também não lhes está a ser aplicado o aumento salarial este ano, nem o pagamento da laboração contínua”. “O que a empresa está a tentar fazer é embaratecer o preço da laboração contínua e nós não aceitamos fazê-lo nos moldes em que a empresa quer”, sustentou.

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Os trabalhadores da Super Bock Bebidas cumprem uma greve entre esta terça e quarta-feira, em protesto contra os aumentos salariais de “0%” propostos pela administração, à qual se somará a já duradoura greve ao trabalho suplementar, no feriado de quinta-feira, 10 de junho.

Contactado pela Lusa, o Super Bock Group referiu que esta é a “terceira greve no espaço de seis meses”, considerando tratar-se de “uma posição incompreensível dado o contexto que o país ainda atravessa (com confinamento geral durante 2,5 meses, a contração do mercado de cerveja em Portugal e a incerteza quanto ao regresso a uma normalidade)”.

Falando na manhã desta terça-feira à Lusa durante a concentração de trabalhadores, com piquete de greve, que decorre junto à fábrica e sede da empresa, em Leça do Balio, no concelho de Matosinhos, José Eduardo Andrade disse estarem ali reunidos cerca de meia centena de funcionários.

De acordo com o sindicalista, os efeitos dos três dias seguidos de greve “seriam catastróficos num verão normal”, em que a empresa estaria “a produzir diretamente para o consumidor”, mas, tratando-se de um “verão atípico”, devido à pandemia, “há alguma capacidade de armazenagem que irá compensar as necessidades”. “Mas achamos que não será o suficiente, portanto, nos próximos dias, alguma coisa haverá de falhar em termos de fornecimento de cerveja ao país”, antecipou.

De acordo com a Comissão de Trabalhadores (CT) da Super Bock, no dia 12 de fevereiro os sindicatos (Sintab e Sinticaba) e a administração reuniram-separa iniciar o processo de negociação das propostas de atualização do Acordo Coletivo do Trabalho, nomeadamente ao aumento salarial, apresentadas à empresa”.

“Dessa reunião saiu uma clara e inequívoca intenção, por parte da Super Bock, de não negociar as propostas apresentadas pelos sindicatos, salientando, mesmo, um aumento de 0%”, lê-se numa nota da CT, que acrescenta que, “após essa data”, a empresa “não mais se mostrou disponível para voltar à mesa das negociações”.

À Lusa, a empresa garantiu contudo que se mantém, “tal como sempre se manteve, disponível para retomar o processo negocial com os sindicatos, aguardando por parte destes igual disponibilidade”.

A CT acusa ainda a Super Bock de aplicar “vários regimes de horários desregulados, há muito tempo anunciados, na área industrial, fazendo com que os trabalhadores vissem os seus rendimentos reduzidos e as suas vidas, social e familiar, afetadas”.