Da esquerda à direita parlamentar, os partidos, exceto o PS, criticaram esta terça-feira o plano de recuperação de aprendizagens apresentado pelo Governo, de “ideias vagas”, “frases feitas” e pouco detalhado, apelando a uma discussão mais aprofundada.

No debate de atualidade requerido pelo PCP sobre a preparação do ano letivo, a deputada Ana Mesquita apontou que, “a um conjunto de preocupações e de questões concretas, o Governo respondeu novamente com um conjunto de generalidades e medidas não detalhadas para resolver os problemas”. A comunista alertou para a falta de trabalhadores na escola pública, “com um problema gravíssimo de precariedade”, argumentando que “não é com migalhas” que se resolvem estas questões.

Pelo PSD, Cláudia André considerou que o plano em debate é um powerpoint com um conjunto de “ideias vagas e de frases feitas e de fórmulas mais que gastas”, que “anuncia 900 milhões de euros e a seguir coloca lá uma série de conteúdos que realmente ninguém consegue perceber muito bem onde é que estão os milhões e onde é que estes milhões vão ser gastos”.

Para o BE, as orientações para recuperar as aprendizagens afetadas pelo ensino à distância já chegam tarde, são pouco claras e ficam aquém das necessidades das escolas. “É um plano de intenções genéricas e em alguns aspetos mal direcionado, quando deveria corresponder ao momento excecional em que vivemos”, descreveu a deputada Alexandra Vieira, referindo que esta seria a oportunidade para o executivo responder a problemas antigos e estruturais do setor, referindo concretamente a falta de professores.

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Do lado oposto do hemiciclo, Ana Rita Bessa, do CDS-PP, reconheceu virtudes naquilo que até agora se conhece do plano de recuperação das aprendizagens e considerou que essa será uma das questões mais prementes no rescaldo da pandemia, mas lamentou não ver essa emergência traduzida nas medidas do Governo.

Na passagem de palavra para Bebiana Cunha, o Presidente da Assembleia da República fez questão de desejar à deputada do PAN “as maiores felicidades, sucessos, êxitos, sorte” na nova função como líder do grupo parlamentar, “e ao mesmo tempo felicitar o PAN pelo seu congresso e pelos seus resultados”.

Depois de agradecer, Bebiana Cunha disse esperar que a discussão sobre o plano do Governo possa ser “mais aprofundada”: “para nós podermos assumir que não se trata efetivamente de um plano tão vago é fundamental haver aqui compromissos do senhor ministro e respostas muito concretas”.

Pelo PEV, a deputada Mariana Silva ironizou que o Governo queria “brilhar no Dia Mundial da Criança” e “tirou um plano da cartola”, deixando um conjunto de perguntas ao ministro da Educação que, apontou, “é preciso que o Governo esclareça para que não seja mais um anúncio”.

“Intenções” foi também a expressão utilizada pelo deputado João Cotrim de Figueiredo, da Iniciativa Liberal, para descrever a proposta do Governo para os próximos dois anos letivo, considerando que o Ministério da Educação não foi além de “medidas sem conteúdo prático”.

Ao lado, o líder do Chega, André Ventura, não comentou diretamente o muito debatido plano de recuperação das aprendizagens, limitando-se a questionar o ministro Tiago Brandão Rodrigues sobre a entrega dos computadores prometidos pelo executivo no ano passado e, por outro lado, quais são os planos da tutela para responder ao problema concreto do insucesso escolar.

Em defesa do plano do Executivo, o deputado socialista Porfírio Silva considerou que o plano de recuperação de aprendizagens é “tão realista como ambicioso, por uma razão: porque é robusto”, apontando para “um investimento sem precedentes em educação”, 900 milhões de euros. “Mas o sucesso de país em o concretizar vai depender do contributo de todos, do processo de auscultação alargada que vai continuar, de uma capacidade de concertação que tem de ser permanentemente exercida, bem como da sua monitorização e contínua avaliação”, sustentou.

Porfírio Silva respondeu ainda a algumas críticas apontadas pelo BE ao plano: “quando a coordenadora do Bloco diz ‘como é que se pode pedir às escolas para organizarem tudo isto em três meses’, mostra que não percebeu algo essencial – não estamos a começar do zero, as escolas não vão agora começar a preparar-se, estiveram a responder desde o primeiro dia, com as ferramentas que temos consolidado nos últimos anos, não foram inventadas agora”.