“Queremos perceber em termos coletivos como evoluímos naquilo que trabalhamos e naquilo que queremos que a equipa faça. Não vão existir testes individuais mas sim coletivos. Há uma coisa que dificilmente poderemos mudar que é o espírito de entrega dos jogadores. Dei os parabéns a todos pela entrega no jogo com a Espanha. Têm sido fantásticos. Ter todos os jogadores nesta fase é extremamente importante. Tenho muito orgulho e plena confiança nos meus jogadores, e não digo isto para engraxar os jogadores. Eu digo-lhes isto. Vou levar apenas 23 para o jogo mas sabem que confio em todos”, começou por dizer Fernando Santos ao canal 11.

“Estamos centrados no processo de jogo da equipa. O que queremos o que a equipa faça em todos os momentos do jogo. Os jogadores têm imensa vontade de melhorar e fazer bem. Os jogos com Espanha e Israel fazem parte da evolução do processo. Não houve exame com Espanha nem vai haver com Israel. A mim interessa-me olhar para o comportamento dos jogadores (…) Receita? Construirmos um ‘nós’ perfeito, dentro e fora do campo. Todos trabalharmos no mesmo sentido, esquecendo o pensamento individual. Se entrarmos pelo individual, de jogar muito bem numa posição porque o faço bem no clube, aí vamos ganhar zero. Mas temos conseguido criar o ‘nós’ perfeito, espero que volte acontecer este ano”, acrescentou depois na conferência de imprensa.

Esse é agora o ponto mais importante: consolidar processos, solidificar uma equipa. E se a questão do ambiente fora de campo não se coloca, até porque se tratam de muitos jogadores que se conhecem há vários anos e já conhecem as dinâmicas de grupo que se vão criando, dentro de campo Portugal tem duas grandes diferença em relação a 2016: é uma equipa que se sente cada vez mais confortável nas transições rápidas ofensivas, porque é aí que consegue criar com mais facilidade desequilíbrios na frente, e também que joga bem mais para Bruno Fernandes do que acontecia anteriormente com qualquer outro médio, o que levou a Seleção para um 4x2x3x1 que deverá manter-se para a fase final do Europeu. Aliás, olhando para aquele que deve ser o primeiro onze com a Hungria, as únicas dúvidas passam apenas por quem será o lateral esquerdo de início (Raphael Guerreiro ou Nuno Mendes) e quem ocupa a vaga de ‘6’ (Danilo com William ou William com Rúben Neves ou Moutinho). Bruno Fernandes, esse, tem lugar garantido. No último teste foi o MVP com dois golos e uma assistência.

A primeira parte teve um Portugal a dominar por completo o encontro mas a sentir mais dificuldades na criação de oportunidades em ataque organizado e bem mais oleado a desequilibrar nas transições ofensivas. Ronaldo, logo a abrir, deixou o primeiro aviso antes de duas bolas de golo de Diogo Jota na área que passaram por cima e mais um remate de Bruno Fernandes ao segundo poste para defesa de Marciano. A seguir ao quarto de hora inicial, Israel, que não causou um único lance de perigo junto da baliza de Rui Silva, conseguiu acertar melhor as marcações, bloqueou as movimentações de Ronaldo que só voltou a aparecer na parte final mas não resistiu à maior verticalidade da Seleção nas transições: William lançou bem Bruno Fernandes em profundidade, o médio cruzou ao segundo poste mas Marciano segurou o nulo (34′); Bruno Fernandes fez o 1-0 finalizando na área de primeira após uma combinação na direita também a explorar a profundidade entre Bernardo Silva e João Cancelo (41′); Ronaldo aumentou em mais uma transição em que Bruno Fernandes conduziu pelo meio e Jota abriu linha de passe para o capitão receber na área e fazer de pé esquerdo o 2-0 (44′).

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No segundo tempo, entre uma chance flagrante de Bernardo Silva para defesa de Marciano (50′) e um remate forte mas à figura do guarda-redes israelita numa das primeiras ocasiões em que tocou na bola no último terço (70′), Portugal teve um jogo mais desligado, não tirou grandes benefícios quando colocou André Silva na frente com Ronaldo e ainda pior ficou com as substituições, não pela qualidade de quem saiu ou entrou mas por ser um conjunto de jogadores sem grandes rotinas e que foram tentando perceber a melhor forma de “dialogarem” com bola entre si, sobretudo do meio-campo para a frente onde se centrou o maior número de alterações, antes de nova aceleração na parte final que valeu os dois melhores golos da noite, com João Cancelo a ter um grande trabalho individual da esquerda para o meio com remate de pé esquerdo para o 3-0 (87′) e Bruno Fernandes a procurar um espaço mais interior para receber no corredor central e marcar o 4-0 ao ângulo (90+1′).

O jogo a três toques

Para recordar

Sim, Portugal tem Ronaldo. E tem Diogo Jota. E tem Bernardo Silva. E pode ter ainda João Félix, pode ter Rafa, pode ter Gonçalo Guedes, pode ter Pedro Gonçalves. No entanto, mesmo entre as fragilidades de Israel enquanto equipa, foi possível perceber a importância fulcral de três elementos em específico perante o 4x2x3x1 utilizado de início e que tiveram exibições muito positivas: os laterais, neste caso João Cancelo e Nuno Mendes, que dão a profundidade que a falta de alas puros na equipa e nos convocados não permite sem perder com isso as suas referências defensivas; e o jogador mais avançado do meio-campo, neste caso Bruno Fernandes, que recebe de forma invariável todos os lançamentos nas transições rápidas para assistir ou surgir na finalização.

Para esquecer

A finalização é um dos pontos sempre a melhorar, até porque houve um par de ocasiões na cara de Marciano desperdiçadas e que poderão ter consequências diferentes na fase final do Europeu. No entanto, a nota negativa vai mesmo para a seleção de Israel e para o teste em si que se calhar seria mais competitivo se Fernando Santos dividisse os convocados ao meio. As contingências do calendário, as datas e a preparação de outras equipas não terão permitido encontrar outro adversário mas houve alguns aspetos, talvez dos mais importantes olhando para a fase de grupos do Campeonato da Europa, que não foram em nada trabalhados: o jogo sem posse, a organização sem bola após a perda e as transições defensivas, algo que será vital quando se tem pela frente equipas com a qualidade e a dimensão da Alemanha e da França (com a Hungria será um jogo diferente).

Para valorizar

Dois pontos relevantes, a breve e médio/longo prazo: Rui Silva foi o 51.º jogador lançado por Fernando Santos, que tinha promovido em Espanha a estreia de Pedro Gonçalves, em mais uma opção para a baliza que se junta aos convocados Rui Patrício e Anthony Lopes e que se juntam a outros não chamados como José Sá e Diogo Costa; a dupla de centrais de Portugal, com o fenómeno Pepe para quem a idade é uma coisa pouco relevante no BI a fazer uma parelha fortíssima com Rúben Dias, que se sagrou o melhor jogador da Premier League logo na época de estreia pelo Manchester City. As fragilidades de Israel não permitiram que nenhum tivesse no jogo um destaque especial mas, para um e outro caso, não é isso que retira a qualidade das opções nacionais.